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CARNAVAL

Ambulantes dormem nas ruas para atender a demanda do Carnaval carioca

Estima-se que mais de 500 blocos e cerca de 6 milhões de pessoas irão desfilar pela cidade do Rio de Janeiro em 2019

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |

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A dificuldade para se reinserir no trabalho com carteira assinada fez com que muitas pessoas optassem pelo mercado informal
A dificuldade para se reinserir no trabalho com carteira assinada fez com que muitas pessoas optassem pelo mercado informal - Fernando Frazão/ Agência Brasil

A menos de um mês para o Carnaval, os foliões já preparam os adereços para aproveitar a maior festa popular do país. No município do Rio de Janeiro, os blocos já estão ocupando as ruas da cidade desde o mês de janeiro. Enquanto muitos aproveitam para se divertir, uma grande maioria encontra no Carnaval a possibilidade de aumentar a renda da família.

Os vendedores ambulantes são aqueles que abastecem os foliões durante o Carnaval de rua. Um bloco sem os trabalhadores informais significa que não tem água, cerveja e comida. Imaginar isso diante de um calor de 40°C e 24 horas de folia é impossível. Contudo, manter a festa de rua bem servida não é fácil.

José Cruz é um dos ambulantes que mantém a rotina intensa de trabalho durante o período do Carnaval. Há 45 anos José atua pelas ruas como ambulante, principalmente com a venda de bebidas, balas e doces. Durante os dias de folia, o ambulante, que mora a cerca de 40 km do Centro do Rio, no bairro de Senador Camará, na zona Oeste, opta por não voltar para casa e dorme pelas ruas da cidade.

“A gente vem de longe, eu mesmo moro em Senador Camará, depois de Bangu e não tem condição de sair e voltar e pegar os eventos porque dorme pouco, se cansa. Há quatro anos eu estava tão cansado que eu ia para a Central buscar mercadoria e não aguentei. Parei o triciclo embaixo de uma barraca, peguei uma tabua que era usada como tabuleiro, coloquei no chão e deitei. Para muita gente, camelô ganha fácil e não é assim”, conta José de 53 anos.

A crise e o aumento do trabalho informal

A situação vivida por José Cruz é comum para muitos trabalhadores que atuam nas ruas cariocas durante o Carnaval. A crise econômica que ainda afeta o estado do Rio de Janeiro deixou um rastro de desemprego. A dificuldade para se reinserir no trabalho com carteira assinada fez com que muitas pessoas optassem pelo mercado informal. 

De acordo com a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada no fim de janeiro, o número de trabalhadores sem carteira assinada no país cresceu 3,8% (mais 427 mil pessoas) no quarto trimestre de 2018, frente ao ano anterior.

O estudo revelou ainda que ao final de 2018, o Brasil tinha 33 milhões de pessoas trabalhando com carteira assinada (sem considerar empregados domésticos). Outras 11,5 milhões estavam atuando sem carteira, e outras 23,8 milhões, por conta própria.

No Carnaval, o número de ambulantes nas ruas aumenta. Pessoas que já trabalham há mais tempo na atividade e novatos veem a possibilidade de aumentar o rendimento no período da folia. José sustenta a enteada e o neto com o dinheiro das vendas de alimentos e bebidas, a expectativa para março é que o seu rendimento mensal seja dobrado.

“Nesse período de festa para o camelô é como se fosse o décimo terceiro, principalmente o camelô que trabalha com evento. A gente espera com toda a crise que façamos uma diária melhor, mas para isso é um sacrifício”, afirma.

Licença para trabalhar

Além das dificuldades como fadiga e falta de estrutura para o trabalho, os ambulantes de deparam com outro problema que passa ano e entra ano permanece sem solução: a hostilidade dos agentes públicos com os trabalhadores informais que não possuem licença.

Para Maria de Lurdes, coordenadora do Movimento Unido dos Camelôs (MUCA), a prefeitura até o momento não apresentou uma estratégia eficiente para lidar com os ambulantes, principalmente os que atuam durante o Carnaval. 

"A gente sente que quando a prefeitura vem, ela tem o intuito de fazer uma perseguição aos trabalhadores. Você precisa ter um projeto de organização dos camelôs na rua porque a gente não vem para a rua à toa e sim porque precisamos. Por trás de cada tabuleiro vai ter um trabalhador” , ressalta Lurdes.

A coordenadora do MUCA afirma também que o sistema de cadastro oferecido pela prefeitura não resolve o problema dos ambulantes, pois limita o trabalho. Além disso, os kits entregues aos camelôs para a venda de bebidas não atendem a demanda do Carnaval. Segundo Lurdes, o isopor, por exemplo, é pequeno demais.

Mais de 500 blocos irão desfilar pela cidade do Rio. A prefeitura credenciou 10 mil ambulantes para atuar no período de folia que no último ano colocou 6 milhões de pessoas nas ruas. As inscrições terminaram no dia 18 de janeiro. 

O Brasil de Fato entrou em contato com a prefeitura para obter respostas sobre o sistema de cadastro dos ambulantes durante o Carnaval e os questionamentos acerca dos kits fornecidos. Sobre o cadastramento apenas informaram que é feito pela Ambev.
 

Edição: Mariana Pitasse