Cerca de 300 pessoas da Frente Brasil Popular trancaram a estrada de escoamento da mineradora Ferrous, em Serra Azul (MG), a cerca de 3 km de Brumadinho, no início da tarde desta quinta-feira (31). Os manifestantes paralisaram os trens e caminhões da mineradora.
Segundo os manifestantes, a empresa continua levando minério de ferro da região, mesmo após o rompimento da barragem Mina do Feijão na última sexta-feira (25), que despejou 13 milhões de metros cúbicos de rejeitos no rio Paraopeba.
“A gente fica por entender, né? Porque do outro lado tem a notícia que tem centenas de trabalhadores assassinados pela lama da Vale. Ao mesmo tempo as empresas de mineração de Brumadinho continuam trabalhando”, afirma Cristiano Meirelles, da coordenação estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). De acordo com Cristiano, a mineradora intensificou o número de veículos carregados de minérios de ferro nos últimos dias.
O último relatório do corpo de bombeiros aponta que 99 corpos foram encontrados até o momento, e 257 pessoas seguem desaparecidas.
O protesto também serve para prestar solidariedade às famílias atingidas e denunciar a atuação das mineradoras, especialmente a Vale, explica o sem-terra.
“Temos 600 famílias acampadas a mais de um ano a 3km da cidade de Brumadinho, às margens do rio Paraopeba. Recebemos a notícia que temos que sair 100 metros da beira do rio, mas essas famílias não tem para onde ir”, conta Cristiano.
Na manhã desta quinta as Secretarias de Estado de Saúde (SES); de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD) e de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SEAPA) comunicaram que a água do rio Paraopeba apresenta riscos à saúde humana e animal e está contaminada até o município de Pará de Minas. A nota também alerta ainda que as pessoas devem se afastar no mínimo por 100 metros das margens.
“As famílias aqui não têm como se sustentar, elas vivem da roça produzida com a água do rio, elas e os animais bebem a água do rio. Essas famílias moram na beira do rio. Por isso juntamos com outras organizações para denunciar o descaso que a Vale em tido com os trabalhadores”, conta.
Os manifestantes cobram do ações do Estado e da Vale para que busquem maneiras de resolver os problemas das famílias da região.
Histórico de luta
Entre a população atingida em Serra Azul está a Aldeia Pataxó Hã Hã Hãe e os Acampamentos Pátria Livre e Zequinha, ambos do MST. As duas primeiras áreas foram criadas juntas, numa ação de solidariedade entre sem-terras e indígenas, numa jornada de lutas realizada em 2017 que já denunciava as mineradoras da região e a corrupção da empresa MMX.
“Foi na comunidade do Tejuco, que chorei pela primeira vez. Vi essa região toda verde. Agora a Vale destruiu tudo. Minha plantação tá seca, a gente não pode beber a água, não pode mais pescar. Já vimos os peixes boiando mortos sobre a água”, lamenta Sr. Domingos, nascido em Brumadinho e acampado do MST.
Já Michele Ramos, do MAM, explica que a vida dessas populações estão diretamente ligadas ao rio para sobreviverem, e que agora “a gente vê os peixes se debatendo e a água parece tinta óleo. A situação está uma calamidade", lamenta.
Mobilizações
Ações como essa estão ocorrendo ao longo de todo o dia em diversas cidades do Brasil. Em Belo Horizonte, está convocado um ato para as 17h em frente ao Memorial da Vale, na Praça da Liberdade. Além de Minas Gerais, estão previstos atos nos estados de Rio Grande do Sul, Ceará, Pará e Rio de Janeiro nesta quinta, que marca o sétimo dia do crime.
Edição: Luiz Felipe Albuquerque