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China, Rússia e União Europeia pedem diálogo na Venezuela

Russia afirma que extremistas opositores levaram a situação na Venezuela a um "estágio perigoso"

Caracas (Venezuela) |

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China não acompanhou os Estados Unidos no reconhecimento do deputado Juan Guaidó como "presidente encarregado" da Venezuela - AFP

Rússia, China e os países da União Europeia não acompanharam os Estados Unidos no reconhecimento do deputado Juan Guaidó como "presidente encarregado" da Venezuela. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, expressou seu apoio ao presidente Nicolás Maduro, por meio de uma ligação telefônica. Assim informou o Kremlin russo.

Além disso, ministério de Relações Exteriores da Rússia divulgou o mais enfático dos comunicados de apoio ao governo de Nicolás Maduro. Segundo avaliação do governo russo, "os eventos na Venezuela chegaram a um ponto perigoso". E também criticou a posição "extremista" dos opositores venezuelanos, assim como a intervenção dos EUA nos assuntos internos da Venezuela.

"Os opositores extremistas, ao fracassarem em sua tentativa de depor Maduro, inclusive por meio de sua eliminação física, elegeram o cenário de confrontação mais conflitivo. A posse do 'presidente interino da Venezuela', de oposição, e seu reconhecimento imediato por parte dos Estados Unidos e vários governos da região tem como objetivo agravar a divisão da sociedade venezuelana, o crescimento dos enfrentamentos de rua, a desestabilização política e uma maior escalada do conflito", diz o comunicado da chancelaria russa.

Para o governo de Vladimir Putin, Trump atua à margem da lei. "Washington dá uma nova demonstração de seu desprezo pelas normas e princípios do direito internacional". A nota também traz um apelo aos opositores, para que não sirvam como massa de manobra dos interesses dos EUA."Fazemos um chamado aos políticos sensatos venezuelanos, que se opõem ao governo legítimo de Nicolás Maduro, com um chamado a não se converterem em peões no jogo de xadrez de outro pessoa", afirma a Rússia.

Segundo o governo russo, o papel da comunidade internacional é ajudar em uma saída pacífica. "A tarefa da comunidade internacional é ajudar a encontrar um entendimento mútuo entre as diversas forças políticas da Venezuela. Nós estamos prontos para cooperar com isso e com todos os Estados que compartilham de nosso objetivos", conclui o comunicado.

Assim também o primeiro ministro da Rússia, Dmitri Medvedev, condenou a postura dos EUA e países da região. "Fomos testemunhos de como, contrariando a Constituição, em praça se 'elegeu' novamente a outro chefe de Estado. Esse 'quase-golpe' foi apoiado por líderes de vários países, muito rapidamente. Como se cumprissem uma ordem", escreveu Dmitri Medvedev em sua conta no Twitter, nessa quinta-feira.

Entre os países que emitiram comunicado em apoio ao governo de Nicolás Maduro também estão Turquia, Irã, Bolívia, Cuba, Nicarágua, El Salvador e Rússia. México e Uruguai pediram hoje uma solução pacífica, assim como Portugal e Espanha.

União Europeia não reconhece Guaidó

Em um comunicado divulgado na noite de quarta-feira (23) a vice-presidenta da Comissão Europeia, a italiana Federica Mogherini, também representante da União Europeia para assuntos Exteriores e Políticas de Segurança, divulgou uma nota onde reitera a condição de Juan Guaidó como "presidente da Assembleia Nacional". A representante da União Europeia afirma que os países europeus pedem diálogo com a Venezuela.

"Nesta terça-feira (22), os ministros das Relações Exteriores da Espanha, França, Itália, Países Baixos e Portugal emitiram um comunicado conjunto sobre a Venezuela com o qual pretendem pedir urgência à União Europeia e aos países iberoamericanos na criação de um grupo de interlocutores para facilitar o diálogo entre o governo e a oposição", disse a representante europeia, que relembrou que já foi feita uma primeira reunião com o presidente Nicolás Maduro.

"Os embaixadores da União Europeia realizaram um encontro com Maduro, mandatário venezuelano, em Caracas, e Maduro não foi contra a iniciativa proposta da União Europeia", afirmou Mongherini.

China pede respeito mútuo entre Venezuela e EUA

Assim como Rússia e Europa, também a China pediu diálogo e repudiou o que considerou ser "ingerência em assuntos internos da nação sul-americana, por parte dos Estados Unidos". A porta voz do Ministério de Assuntos Exteriores da China, Hua Chunying, em uma entrevista coletiva, indicou que a China defende independência da Venezuela. "Nos opomos à ingerência estrangeira nos assuntos internos da Venezuela e esperamos que a comunidade internacional também siga esse princípio".

A representante da China defendeu o respeito mútuo entre EUA e Venezuela. "Esperamos que a Venezuela e os Estados Unidos possam se respeitar e tratar um ao outro com igualdade, lidando com relações baseadas na não-interferência nos assuntos internos de cada um", sustentou Chunying.

Representante de Assuntos Exteriores da União Europeia, Federica Mogherini não reconheceu Juan Guaidó como presidente interino | Foto: UE

Edição: Pedro Ribeiro Nogueira