A União Geral Tunisiana do Trabalho (UGTT) promoveu, na semana passada, uma greve nacional de servidores públicos para protestar contra a lei de austeridade do governo. A paralisação foi chamada na quarta-feira (16), depois do fracasso das negociações salariais entre o poder Executivo e a entidade.
A Tunísia está hoje à beira de uma crise econômica, com o aumento vertiginoso da dívida pública e do desemprego, desde a transição de uma autocracia para uma democracia pluripartidária em 2011. O governo do país está sendo pressionado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para adotar medidas de austeridade para equilibrar a crise.
A greve atual acontece menos de um mês depois de um confronto violento entre a polícia e manifestantes. No dia 24 de dezembro, protestos espontâneos começaram em Kasserine com a palavra de ordem “Yezzikom” – “basta de você” – e se espalhou para o resto do país. O estopim das manifestações foi um vídeo que circulou amplamente, no qual o jornalista desempregado Abdel Razzaq Zorgui, de 32 anos, chamou a população à revolta e à autoimolação.
O ativista Ayoub Saidi, de Túnis, afirmou ao Peoples Dispatch que os protestos de dezembro e o sacrifício de Zorgui foram provocados por causa da nova lei de finanças implantada em janeiro do ano passado. “Atear fogo ao próprio corpo foi a forma que ele [Zorgui] encontrou para protestar contra a situação social precária em que ele e a maior parte da juventude tunisiana estão”, afirmou o militante.
“Agora a Tunísia está passando por um de seus momentos mais difíceis, com impactos na vida de pessoas com diferentes trajetórias. Tudo por causa das políticas contra a nação e contra o povo, assim como a dependência que o governo tem de serviços financeiros globais, principalmente do Banco Central e do Fundo Monetário Internacional”, Saidi acrescentou.
Conjuntura política
A organização de protestos pela UGTT é de grande importância para o futuro das mobilizações populares na Tunísia. Além de ser a maior entidade de classe do país, com mais de meio milhão de membros, a união também teve papel crucial na queda do governo de Ben Ali e na busca por uma solução para as divergências políticas que se seguiram entre islamistas e secularistas. Na atual conjuntura, além da Frente Popular, a UGTT é a única organização com alcance nacional a dar vazão para a insatisfação da população contra o poder público.
O atual governo de coalizão chega a seu último ano no poder em meio a protestos e manifestações contrárias. As próximas eleições gerais no país devem ser realizadas entre outubro e dezembro e serão vitais em um momento marcado pela maior organização de entidades de classe e movimentos de esquerda.
Os sucessivos governos que assumiram após a Primavera Árabe – que levou à queda do regime autocrático do presidente Zine El Abidine Ben Ali depois de 29 anos no poder – estão enfrentando dificuldades para manter a economia do país. A dívida tunisiana, que estava abaixo de 40% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010, superou os 70% em 2017, enquanto o crescimento diminuiu e estagnou em 1%.
Embora a situação tenha melhorado no período de 2017-2018, quando registrou-se uma taxa de crescimento de 2,1%, muito pouco foi conquistado em termos de geração de empregos. O índice de desemprego atualmente está em 15%, superando ainda 25% entre os jovens.
Em 2018, o mandato da coalizão liderada pelo partido Nidaa Tounes apresentou um novo projeto de lei de finanças sob pressão do FMI. O texto estabeleceu as bases institucionais das medidas de austeridade para controlar a dívida pública, incluindo o congelamento dos salários dos funcionários públicos e o aumento dos impostos sobre bens e serviços – o que, por sua vez, aumentou o custo de vida.
A essas medidas, seguiu-se um protesto de um mês realizado por trabalhadores e jovens de todo o país, com o apoio da Frente Popular, de esquerda.
Edição: Peoples Dispatch