Rio de Janeiro

SEGURANÇA

Em meio a polêmicas, Witzel acaba com Secretaria de Segurança Pública no Rio

Especialista questiona medida que desintegra o trabalho e as ações das polícias no estado

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Para o professor UFF Lenin Pires, a decisão de acabar com a pasta gera conflitos internos nas corporações e disputa de poder
Para o professor UFF Lenin Pires, a decisão de acabar com a pasta gera conflitos internos nas corporações e disputa de poder - Wilson Dias/Agência Brasil

O governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel (PSC) tem lançado declarações polêmicas para a área de segurança pública no estado desde a campanha eleitoral. Witzel já comentou, por exemplo, sobre construir prisões com tortura em alto mar, abater criminosos e importar armas de guerra israelenses.

Na prática, o governador eleito extinguiu a Secretaria de Segurança Pública na primeira edição do Diário Oficial do estado de 2019. A informação consta no documento publicado no mesmo dia em que tomou posse, 1º de janeiro. Em substituição, cada área da segurança pública ganha status de secretaria em particular.

Para o professor do Departamento de Segurança Pública da Universidade Federal Fluminense (UFF) Lenin Pires, a decisão de acabar com a pasta gera conflitos internos nas corporações. Ele também questiona a ausência de uma Secretaria de Segurança que busque integrar o trabalho das polícias no estado.

“O que o governador demonstra com essa atitude é aparentemente desconhecer que cada uma dessas corporações, Policia Militar, Civil, Administração Penitenciária, é formada por diferentes grupos que vão competir pelos recursos e disputar internamente o poder”, explica o especialista em entrevista à apresentadora Denise Viola no Programa Brasil de Fato RJ.

O pesquisador lembra que a Secretaria de Segurança Pública reúne diversos profissionais e produz dados integrados sobre segurança pública. “Quem vai se ocupar desse trabalho? O próprio governador? O que ele vai fazer então na área de educação, saúde, indústria, comércio, serviço?”, questiona.

Pires ainda comenta que Witzel deve conduzir políticas de desenvolvimento econômico que atendam as preocupações gerais da população. “Sem o governador demonstrar interesse de capitanear uma política de inclusão, só a repressão não vai dar certo”. O estado do Rio vive uma situação precária em diferentes áreas, a expectativa é de que o governador apresente respostas globais para todas elas.

“É necessário imaginar para cada ação na saúde, na educação, segurança pública, transporte, como essas coisas pode gerar emprego, distribuição, divisas, porque afinal de contas são os investimentos públicos que estão em jogo”, analisa.

Ainda sobre a segurança pública, o professor avalia que Witzel não tem propostas de enfrentamento às milícias. Os grupos são formados por integrantes das próprias forças de segurança do estado que controlam territórios e serviços através da violência no Rio de Janeiro.

“É muito fácil falar que é terrorismo, mas qual o nível de investigação que ele pretende efetuar tendo, inclusive, que lidar com grupos internos que acabam tendo uma relação de vista grossa. Acho estranho não ter uma Secretaria de Segurança para coordenar esse trabalho de integração”, analisa.   

Edição: Mariana Pitasse