“A gente continua tendo as mesmas preocupações: se o banco vai expandir, se vai melhorar. O ano passado foi o ano do atendimento. Vai continuar tentando melhoria ou vai voltar a sucatear as agências?” Assim o bancário Wagner Nascimento, funcionário do Banco do Brasil e diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), define o sentimento entre os empregados após a posse da nova diretoria do BB nomeada pelo governo de Jair Bolsonaro. “Ano passado foi um dos que mais investiu no agronegócio, vai continuar a trabalhar a agricultura familiar? Isso é tudo uma incógnita.”
Essas perguntas estão entre as que foram enviadas pela reportagem da RBA ao novo presidente da instituição pública, Rubem Novaes, que se recusou a “comentar”.
Wagner Nascimento, que também é coordenador da comissão de funcionários responsável pelas negociações com a empresa pública, ressalta que essa política de investimento no agronegócio é muito importante para a sociedade e também para o banco. “A imagem do BB está muito atrelada ao financiamento da agricultura. É um negócio do banco.”
E rentável, afirma ele. “Até o final dos anos 1980, início dos 1990, se via muito escândalo de dívidas perdoadas dos bancos, que os grandes agricultores nunca pagavam. Não tem mais isso. O BB não faz favor pra ninguém”, afirma. Líder absoluto em crédito ao setor, o Banco do Brasil tem 61,2% de participação nesse mercado.
“Até o MPO [Microcrédito Produtivo Orientado], do catador de rua, é um negócio. Claro que tem taxas subsidiadas, mas o banco não toma prejuízo com aquilo”, diz o dirigente da confederação dos bancários, reforçando a importância do banco público para rebater aqueles que tentam desconstruir essa função social para queimar a imagem da instituição.
“Tentam tachar os bancos públicos como ineficientes, que poderia estar lucrando com outras coisas. Mas o banco não toma prejuízo com essas coisas. Claro que tem lucro a menos ou lucro a mais”, compara. “O banco privado não vai construir cisterna no Nordeste porque não quer, porque não tem nenhum interesse de fazer isso. O BB faz, financia. Mas dizer que o banco toma prejuízo com programas sociais é uma falácia.”
Wagner lembra que a última grande reestruturação já fechou cerca de 500 agências e transformou 400 em posto. “Na prática fechou quase mil agências de dois anos para cá. Começa a sucatear o atendimento e a sociedade se pergunta, para que serve o Banco do Brasil?”
Nova direção do banco
O discurso da posse de Rubem Novaes, na segunda-feira (7), não foi considerado ruim mesmo por bancários com uma consciência mais crítica, avalia Wagner. “Acho que o discurso do presidente do banco, como todos, tem um antes, outro na posse, outro depois. Ele disse que vai avaliar o fechamento de agências deficitárias, mas que se tiverem chances de serem recuperadas, serão. Disse que tem de avaliar se não é a única agência do lugar, que o banco não vai sair e deixar uma cidade sem banco. E que não vão vender a joia da coroa. Ele meio que deu um 'assopra', talvez querendo agradar ao público interno”, observa o bancário. “O presidente fala que não vai vender a menina dos olhos, ao mesmo tempo que ele vem com a missão de vender, fazer ativos. O discurso dele não está claro. Mas o Banco do Brasil é muito amarrado e ele não conhece, ele não é do BB.”
Novaes faz parte da “turma de Chicago”, mesma escola de origem do economista Paulo Guedes, que já declarou ser favorável à privatização de “todas” as estatais. “Paulo Guedes sempre foi investidor em ativos do mercado. Parece que está no governo para o mercado ganhar dinheiro”, diz, mencionando a proposta de dar à Previdência pública brasileira o caráter de capitalização. “Se olhar o programa do Bolsonaro, encaixa perfeitamente nos ativos das empresas de Guedes. Educação à distância é um exemplo. Ele está lá para ganhar dinheiro e uma hora vai ter de se descobrir isso.”
Para Wagner, talvez os presidentes dos bancos tenham alguma ponderação, mais parcimônia com o projeto do que o ministro Guedes. “Ele quer tudo para agora, pra ontem, vende tudo. Nem 100 estatais o governo tem pra vender, algumas dezenas são empresas de papel, não têm nem funcionário”, avalia. “Como o governo está meio biruta de aeroporto, vai para um lado e para outro. O discurso era vamos vender tudo. Depois vai a público dizer que BB e Caixa não vão vender, que é um absurdo. Tem de ver o que vai fazer.”
Filho do Mourão
Sobre a indignação dos bancários do BB com a nomeação de Antônio Mourão – filho do vice-presidente da República, Hamilton Mourão –, como assessor especial da presidência do banco, Wagner conta que o problema não é ter triplicado o salário. “A indignação começa por onde ele trabalhou, nas diretorias onde passou. Quando a pessoa é muito boa de serviço e mostra serviço onde passou, tudo bem. No banco é assim: ele é o filho do Mourão, mas é bom? Então tudo bem. Mas não é esse o sentimento, o cara era mediano, não era um bambambã. Ele nunca foi um líder de equipe.”
Os bancários do BB, conta Wagner, sabem que havia gente mais qualificada para o cargo. “Se era para nomear um especialista, tinha gente muito melhor do que ele, muito mais especialista (em agronegócio, que é a área para a qual foi designado). “Falar que ele é incompetente, claro, não dá pra falar, mas dizer que foi chamado para o cargo porque é um especialista em agronegócio no banco é um exagero.”
O novo presidente já nomeou oito vice-presidentes para o banco. “Só dois permaneceram da direção anterior, os demais foram trocados”, conta o dirigente da Contraf-CUT. Nessas nomeações também ocorreram problemas de ”saltos ornamentais”, a exemplo do superintendente estadual da Bahia, que sem passar por uma diretoria chegou a uma vice-presidência. “Uma coisa é um cara de fora. Mas quando é da carreira, esses saltos ornamentais o pessoal fica de olho e o clima fica ruim. Na prática ele pulou de superintendente estadual para vice-presidente. Isso aí causou muita estranheza.”
Edição: Cecília Figueiredo