O professor Guarani Jurandir Martim explica como a recém medida de demarcação influência no cultivo e na alimentação
A influência indígena na alimentação do povo brasileiro é extremamente importante, pois permeia a história dos alimentos e da cultura no Brasil. As receitas feitas com ingredientes de origem indígena são passadas por gerações, caracterizando pratos marcantes e presentes na nossa mesa e que sempre foram a base da alimentação dos índios.
Jurandir Augusto Martim é da etnia Guarani e professor da Escola Estadual Indígena Djekupé Amba Arandy, e realizador de projetos de incentivo ao cultivo e plantação de alimentos para crianças indígenas. Ele explica a importância de reconhecer o uso de alimentos de origem indígena e cita alguns exemplos.
“Com o passar dos anos, eu percebi que o alimento do Juruá, pessoa não indígena ,começou a fazer parte da alimentação do nosso povo então nosso povo... por falta de terra, por falta de espaço também passou a não produzir esses alimentos mais por isso que eu dou muita importância pro alimento indígena”.
“Tem o Manduvi que é o amendoim, um alimento Indígena Guarani, tem o avaxi que é o milho que falamos e também o Avaxi Para'i, que é o milho pintado, uma variedade muito nutritiva, bonita e sagrada. Também a Mãji'o que é a mandioca, o yva pytã que é o coquinho. São esses alimentos que tem na alimentação do brasileiro que é de origem Guarani.
Logo no início do ano, os índios foram alvos de uma dura medida do presidente Bolsonaro, que transferiu a demarcação de terras indígenas e quilombolas da FUNAI para o Ministério da Agricultura, comandado por Tereza Cristina, da bancada ruralista. Jurandir fala sobre a importância de se cultivar e consumir o próprio alimento para seu povo, e explica como a recém medida de demarcação influência na alimentação e no cultivo de alimentos.
“Quando sai do ministério da justiça e vai para a mão do ruralista que é nosso adversário nas questões territoriais, é evidente que vai nos prejudicar e prejudica muito porque nossa área é pequena, e a gente depende das outras áreas que está em fase de demarcação para poder fazer os plantios. Se a gente não tem terra, não tem lugar de plantio, se não tem terra, não tem lugar pra gente perpetuar nossa cultura então isso é muito prejudicial pra nossas crianças que a gente tem muitas crianças aqui que a gente não quer que elas percam essa cultura do alimento sagrado, do alimento saudável”.
Para a população indígena, falar sobre demarcação de terras é também se referir ao cultivo de alimentos, e a cultura alimentar do Brasil. Alimentação também é resistência!
Edição: Michelle Carvalho/Guilherme Henrique