O Ministério da Saúde informou na manhã desta segunda-feira (17) que 30% dos profissionais de saúde inscritos no Mais Médicos não haviam se apresentado às localidades de atuação, escolhidas por eles próprios no sistema de inscrição do programa. Desde o último informe, liberado na sexta-feira (14) pelo Ministério, outros 44 médicos se apresentaram. O prazo se encerra nesta terça (18).
Entre 2013 e 2017, 54% dos médicos brasileiros que participaram do Mais Médicos desistiram do programa em até um ano e meio. No caso dos cubanos, mais da metade permanecia, em média, um período superior a dois anos e meio nos municípios. O contrato prevê três anos de trabalho. No edital de 2017, 6,2 mil médicos brasileiros se inscreveram para concorrer a 2,3 mil vagas, mas só 1,6 mil apareceram para trabalhar. Destes, cerca de 30% deixaram os postos antes de completar um ano de serviço.
No dia 14 do mês passado, o governo cubano decidiu retirar seus médicos do país, em retaliação às declarações ofensivas do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). Durante a campanha, o capitão reformado prometeu “expulsá-los do Brasil” e, posteriormente, chegou a dizer que os profissionais estariam sendo submetidos a “trabalho escravo”.
No total, inscreveram-se 8.411 médicos, 106 a menos do que o total de vagas disponibilizadas. Destes, 5.935 já se apresentaram em seus postos de saúde ou iniciaram o trabalho. A maioria das vagas não preenchidas está em distritos indígenas.
As lacunas deixadas pelos médicos cubanos concentram-se principalmente na região Norte do país, onde 27 Distritos Especiais de Saúde Indígena ainda têm vagas remanescentes.
O prazo para inscrição de médicos brasileiros e estrangeiros formados fora do país encerrou-se no domingo (16). Nesta terça (18), termina o prazo para que os médicos brasileiros formados aqui e já inscritos se apresentem em suas localidades e definam, junto aos gestores locais, o início de seu período de trabalho.
Declarações contraditórias
Segundo a versão oficial do governo, a decisão de retirar os médicos cubanos ocorreu depois de o presidente eleito ter proposto novas condições para a manutenção do contrato de cooperação entre os países: “Condicionamos à continuidade do programa Mais Médicos a aplicação de teste de capacidade [Revalida], salário integral aos profissionais cubanos, hoje maior parte destinados à ditadura, e a liberdade para trazerem suas famílias”, disse Jair Bolsonaro em sua conta no Twitter.
Porém, o próprio Bolsonaro havia tentado retirar direitos de familiares de médicos cubanos e, na Câmara dos Deputados, chegou a declarar que os profissionais de saúde eram "agentes comunistas infiltrados". Mesmo depois de eleito, em cerimônia militar no Rio de Janeiro, no dia 24 do mês passado, o político da extrema direita classificou o programa como “desumano” e disse que o Mais Médicos “estava destruindo famílias” no Brasil.
Edição: Daniel Giovanaz