Reconhecimento do saber popular gera maior envolvimento da comunidade e mudança nos resultados
Como qualificar a Atenção Primária à Saúde, garantir a integralidade, um dos princípios estruturantes do Sistema Único de Saúde (SUS), para potencializar o cuidado, a promoção de saúde das populações?
Quem responde ao Repórter SUS dessa semana, produzido em parceria com a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio da Fundação Oswaldo Cruz (EPSJV/Fiocruz), é Eymard Mourão Vasconcelos, professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e coordenador da Rede de Educação Popular e Saúde (Rede Pop).
Vasconcelos fala sobre a influência do educador Paulo Freire na saúde pública, a educação popular para qualificação dos cuidados, por meio da valorização dos saberes e práticas populares. Segundo o coordenador da Rede de Educação Popular e Saúde, essa valorização gera práticas completamente diferentes da prescrição tradicional do médico para o paciente.
"Nós, profissionais de saúde, temos uma tendência de ficar mandando as pessoas fazerem as coisas. Uma educação normativa, como se a gente soubesse e as pessoas não. Isso é totalmente improdutivo. Todo mundo já tem lutas por saúde na sua família e na sua comunidade", diz o professor universitário.
Para o coordenador da Rede Pop quando se considera o conhecimento popular das comunidades, as peculiaridades regionais e socioculturais, há um maior envolvimento da comunidade com a saúde e uma "mudança impressionante nos resultados".
“Nós médicos queremos ensinar [tudo] para as pessoas e as pessoas têm seu jeito de lidar com as doenças. Na hora que você [proporciona a] conversa, e elas começam a contar o jeito de lidar com a diabetes, por exemplo, elas vão trazendo coisas e ajudando. Aquela pessoa que era resistente, não queria nada com [tratamento] saúde, vai se entusiasmando", pontua.
Segundo o sanitarista, essa é a grande contribuição da educação popular, transformar a relação, o olhar que está impregnado nos profissionais de saúde. "De que a população é uma massa de ignorantes, apática, que não quer nada, é preguiçosa. As pessoas querem ajuda, mas não aceitam humilhação".
Na opinião do estudioso, a “construção compartilhada da solução necessária” entre profissional de saúde e população é o que diferencia a Atenção Primária brasileira da de outros países. "Muitos sanitaristas de outros países, como países da Europa – que já tem atenção primária mais organizada – quando chegam ao Brasil e veem algumas dessas práticas ficam admirados".
Confira a entrevista:
Edição: Cecília Figueiredo