A 10ª Feira Estadual da Reforma Agrária Cícero Guedes começou nesta segunda-feira (10) no centro da cidade do Rio de Janeiro. A produção agroecológica de assentamentos e acampamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) estará ocupando o Largo da Carioca até quarta-feira (12).
A variedade de alimentos vai desde frutas, legumes, hortaliças, geleias e doces artesanais, arroz, café até a famosa cachaça Vidas Secas. A expectativa do movimento é que sejam vendidas mais de 150 toneladas de produtos durante os três dias de feira, superando o número do último ano.
Cecília Ribeiro é agricultura e moradora do assentamento Paz na Terra, localizado na cidade de Cardoso Moreira, na região norte do estado. Há 17 anos Cecília está no assentamento com sua família. Além de plantar aipim, mamão, abóbora e quiabo, a agricultora é uma das poucas que cultiva sapoti. A exótica fruta é muito usada para a fabricação de xaropes e refrescos e também conhecida por auxiliar no bom funcionamento do aparelho digestivo. Ela conta que a expectativa de vendas está alta.
“Não quero voltar com nada para casa, a minha expectativa é vender tudo até quarta-feira. Entre os produtos que mais têm saído aqui estão o jenipapo e o sapoti”, relata a agricultora.
Quando o assunto é banana e aipim, o assentamento Osvaldo de Oliveira, que existe há quatro anos na cidade de Macaé, se destaca. Adail Pereira está há 15 anos no MST e faz parte de uma das 43 famílias que integram o assentamento. Ele explica que a feira, além de ser uma oportunidade de comercializar os produtos, é também uma chance para romper com o preconceito existente na sociedade com relação aos trabalhadores rurais que compõem o movimento.
“Queremos mostrar para o cliente que não somos os baderneiros que tanto falam, nós estamos atrás de trabalho, sair de lá às quatro horas da manhã para estar aqui não é fácil”, ressalta o agricultor.
O desejo de Adail Pereira é compartilhado pelos cerca de 150 feirantes presentes na Cícero Guedes. Valorizar o contato direto com o consumidor e conhecer a rotina dos assentamentos do MST é uma das principais experiências do evento.
A jornalista Maria Christina Senna está conhecendo a feira pela primeira vez. Para ela, é fundamental apoiar o movimento, principalmente tendo em vista o cenário político de 2019 marcado pelo avanço da extrema direita.
“Os produtos não têm veneno e são de ótima qualidade, além disso existe a possibilidade de fortalecer as pessoas que vivem nos assentamentos, porque não sabemos como será daqui para frente a vida deste povo”, conta.
Fitoterápicos
Além de alimentos, a Feira Estadual da Reforma Agrária Cícero Guedes é uma boa oportunidade para os cariocas conhecerem mais sobre os produtos fitoterápicos produzidos pelos assentamentos. O Coletivo de Saúde do MST existe há 20 anos e tem como princípio fortalecer a saúde popular.
Luiza Maria da Silva atua com a produção de fitoterápicos há duas décadas. Ela desenvolve cosméticos como xampu, repelentes, sabonetes, pomadas e também xaropes. A pernambucana radicada no Rio de Janeiro tem 70 anos e traz uma sabedoria popular sobre o uso das ervas.
“O saber imaterial a gente vai aprendendo com uma tradição familiar, que vai passando de geração em geração. Eu trabalho também na Pastoral da Saúde e contribuo com o MST há 12 anos”, ressalta Luiza que colabora com o assentamento Terra Prometida, em Nova Iguaçu.
Financiamento Coletivo
A Feira Estadual da Reforma Agrária Cícero Guedes vai até quarta-feira (12) no Largo da Carioca, centro da cidade. Neste ano, a iniciativa está ocorrendo de maneira independente, sem o apoio governamental. Por conta disso, o MST lançou uma campanha de financiamento coletivo orçada em R$ 17.000,00 para viabilizar a realização do encontro.
As doações são a partir de R$ 10 e podem ser feitas pelo site catarse.me. Até o fechamento desta reportagem a campanha havia arrecadado R$1.597,00.
Edição: Eduardo Miranda