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O filho pródigo nem sempre volta

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O filho de Dona Olinda gostava de beber e se tornava cada vez mais farrista
O filho de Dona Olinda gostava de beber e se tornava cada vez mais farrista - Marcos Santos/ USP Imagens
Mas além de ajudar todos os que precisavam, fazia de tudo pelos filhos

De vez em quando eu me lembro de umas pessoas muito especiais que encontrei pela vida. Uma delas era uma mulher bondosa demais, moradora da zona leste de São Paulo. Não vou falar o nome dela, os parentes podem não gostar. Vamos dizer que se chamava Olinda.

Era mãe de um amigo meu, que em termos de comportamento não parecia nem um pouquinho com ela. Para mim e para amigos dos filhos, era uma santa, não havia dúvida.

Bom... Ninguém podia chamar dona Olinda de santa. Ela não aceitaria, pois, para começar, não acreditava em santos, era evangélica. Mas além de ajudar todos os que precisavam, fazia de tudo pelos filhos.

Um desses filhos, o Mariozinho, era meu amigo.
Ateu, bebendo todas e só farreando, era um filho que ela poderia considerar desencaminhado, perdido, mas não desistia dele.

Orava por ele, aconselhava, e esperava que um dia ele se convertesse novamente ao que foi durante a infância: um fervoroso cristão evangélico.Mas ele progredia no sentido contrário. Cada vez ligava menos para questões religiosas. E se tornava mais farrista.

Um dia, quando o filho acordou numa baita ressaca depois de uma noitada gloriosa, ela não aguentou, foi falar com ele, pela primeira vez em tom de lamento. Antes ela tentava aconselhar, desta vez se lamentava. Quase chorou perto dele, falando na esperança que já teve sobre o futuro dele e que agora perdia um pouco a cada dia.

Dizia que ele precisava ir à igreja, mudar de vida, etc. etc. Ele ouviu, ficou com uma certa pena da mãe e resolveu atender ao pedido dela. Iria a um culto no domingo à noite. E foi. Mas antes de ir para lá, encontrou uns amigos, passou por um boteco e encheu a cara de cachaça e cerveja.

Chegou à igreja completamente bêbado. Sua mãe estava lá...

Entrou na igreja falando alto e com voz pastosa, e com um bafo terrível. Foi abraçando todo mundo. Homens, mulheres, crianças... E falava:

— Ô, irmão, me dá um abraço. Eu sou filho da irmã Olinda.

Abraçou até o pastor falando isso. A mãe quase morreu de vergonha. Ficou com cara de pavor. No dia seguinte, de manhã, horário em que o Mariozinho ainda estava sóbrio, pediu que ele nunca mais fosse à igreja. 
Ele atendeu. Nunca mais voltou à igreja. 
 

Edição: Michele Carvalho