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Um passeio por monumentos que revelam a herança negra esquecida

Pedra do Sal, Pelourinho da Liberdade, conheça a história de alguns pontos de resistência negra espalhados pelo Brasil

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No roteiro pelas memórias negras a Bahia é referência e também a cidade mais negra fora da África
No roteiro pelas memórias negras a Bahia é referência e também a cidade mais negra fora da África - SETUR/ Fotos Públicas
Pedra do Sal, Pelourinho da Liberdade, conheça a história de alguns pontos de resistência negra espalhados pelo Brasil

Você já ouviu falar na Pedra do Sal, no Rio de Janeiro? No Quilombo dos Palmares, em Alagoas? Ou no Pelourinho da Liberdade, em São Paulo?  Essas e tantas outras localidades consideradas turísticas escondem memórias negras e de resistência, de um passado doloroso e escravocrata.

 

Pedra do Sal

A Pedra do Sal, localizada no final da Rua Argemiro Bulcão é conhecida hoje como importante reduto do samba. Lá surgiram os primeiros ranchos carnavalescos e rodas de samba de estivadores. Além de ter recebido grandes nomes de nossa música popular brasileira como João da Baiana, Pixinguinha e Donga.

Mas o lugar carrega este nome porque durante o século 17 escravos descarregavam na pedra lisa o sal das embarcações que aportavam nas proximidades.

 

Quilombo dos Palmares

Saindo do Rio de Janeiro e entrando no sítio arqueológico da Serra da Barriga, em Alagoas, temos o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, potente reduto de resistência negra do período colonial, que acolhia escravos fugidos.  O memorial conserva a história de um dos maiores quilombos do Brasil, que resistiu por mais de um século e foi comandado por Zumbi e Dandara.

O quilombo foi derrotado pelas tropas do bandeirante Domingos Jorge Velho, em 1695. Após resistir bravamente aos ferimentos sofridos durante o ataque, Zumbi foi morto e decapitado, no dia 20 de novembro, do mesmo ano. Em 2011, através da lei nº 12.519, o dia 20 de novembro foi instituído oficialmente como Dia da Consciência Negra, em homenagem a resistência de Zumbi.

 

Ladeira da Praça

A Bahia, que foi capital do Brasil de 1549 e 1763, recebeu muitos escravos através do Porto do Cais da Cidade Baixa e em portos ilegais como Baía de Camanu ou da Ilha de Itaparica. A Bahia é considerada a cidade mais negra fora do continente africano e, portanto, carrega muito da memória, costumes e tradições.

Uma das Ladeiras mais conhecidas da Bahia, a Ladeira da Praça, próximo ao pé da ladeira da Praça, em frente ao Quartel General do Corpo de Bombeiros teve início uma das mais importantes revoltas, considerada a maior revolta de escravos urbanos nas Américas:, a Revolta dos Malês.

O levante aconteceu em 25 de janeiro de 1835 e foi organizado por africanos iorubás, que no Brasil eram chamados de nagôs. Estudos apontam que mais de seiscentos rebeldes tenham participado.

 

Pelourinho da Liberdade

Na cidade de São Paulo temos o Pelourinho da Liberdade, onde hoje é a Praça da Liberdade, conhecido atualmente como bairro oriental, mas que já abrigou a forca de escravos e o cemitério, como explica a historiadora Carol Oliveira.

"A parte de baixo que era o lava-pés, ali do Glicério, que é a parte mais encharcada, onde tinha enchentes e tem até hoje, sempre foi ocupada por negros. Então nunca teve uma retirada das pessoas negras dali pra colocar imigrantes orientais. O que acontece é que a urbanização vai se transformando e se adaptando ao capital das pessoas e aos interesses capitalistas das pessoas", comenta.

A historiadora faz parte do projeto “História da Disputa: disputa da história” e comenta sobre a permanência negra

 

"É negado às pessoas negras a memória. Então a questão é que está sempre em disputa. Você morar em uma casa ou morar em um cortiço é uma disputa de sociabilidade, hábito urbano, que transforma a cidade e faz com  que permaneçam certas memórias. Se você não tem uma casa, se você não consegue ter um pedaço de terra e terra aqui é a coisa mais importante que tem, você não vai conseguir deixar esse legado", diz. 

 

Carol indica também o “Inventário dos Lugares de Memória do Tráfico Atlântico de Escravos e a História dos Africanos Escravizados no Brasil”, pesquisa feita por estudantes da Universidade Federal Fluminense, sobre portos ilegais, terreiros espalhados pelo Brasil e patrimônios imateriais do negro no país, clique aqui

É difícil precisar os impactos de um sistema racista respaldado pela religião, que perdurou por mais de 400 anos em nosso país e escravizou milhões de negros e negras. Mas é certo que a resistência continua.

 

 

Edição: Guilherme Henrique