Na manhã desta terça-feira (6) foi realizado mais um ato dos servidores do Rio de Janeiro contra o corte de verbas e a precarização do serviço de saúde básica no município. A manifestação, articulada pelo coletivo Nenhum Serviço de Saúde a Menos, aconteceu em frente à Câmara de Vereadores, na Cinelândia, no centro da cidade, ao mesmo tempo em que se realizou, dentro da casa parlamentar, a audiência pública que discutiu sobre orçamento municipal para área da saúde no próximo ano.
A discussão sobre o projeto de lei orçamentária municipal de saúde para o ano de 2019, que aconteceria na última quarta-feira (30), foi adiada para esta terça (6). Em coletiva de imprensa, a secretaria da Casa Civil anunciou um corte ainda maior do que o esperado: serão 239 equipes a menos no município - 184 de saúde da família e 55 de saúde bucal. Ao todo serão 1400 postos de trabalho cortados. A estimativa é o corte de profissionais atinja cerca de 550 mil pessoas no Rio.
Diante dos cortes anunciados, diversos profissionais do serviço público de saúde no Rio estiveram presentes e se manifestaram com faixas e cartazes em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS). Vestido de coletes azuis característicos, os agentes de saúde eram a maioria entre os presentes. Enquanto se manifestavam, centenas de pessoas acompanharam a audiência através de um telão instalado na escadaria da Câmara.
O oficineiro de saúde mental do SUS e representante do coletivo Nenhum Serviço de Saúde a Menos, Márcio, que preferiu não ter o sobrenome divulgado, ressaltou que a Prefeitura do Rio se prontificou durante toda campanha eleitoral a “cuidar das pessoas” e mesmo assim está prestes a reduzir um direito essencial previsto na Constituição. “Cortar verba da saúde pública é a melhor maneira de colocar as contas em dia?", questionou. Ele apontou que é justamente em áreas mais precárias onde estão previstos os maiores cortes de equipe de atenção primária. “Cerca de 550 mil pessoas cadastradas deixarão de receber atendimento e vão precisar ser realocadas”, destacou Márcio.
Cortes
Para Nayá Puertas, diretora do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, o "Plano de Reestruturação da Saúde da Atenção Primária" do governo Crivella que prevê um corte de R$ 725 milhões tem em vista a privatização da saúde em escala nacional.
"Esses números que eles apresentam não são reais e, agora, cortando equipes como fica a saúde da população? Que já não tem uma boa assistência. Sem contar os 1400 profissionais que vão perder o emprego. É o desmonte da saúde pública como um todo", comentou Nayá.
Uma enfermeira da rede municipal de saúde, que preferiu não se identificar, destacou as condições de trabalho e dos hospitais. Segundo ela, faltam insumos, medicamentos e o atraso dos salários é uma realidade frequente.
"A gente tem um paradoxo porque o profissional de saúde tá sobrecarregado. Ele não consegue dar conta das demandas mas a população tem direito a saúde de qualidade", declara.
A apresentação do projeto pelo subsecretário geral executivo da Secretaria Municipal de Saúde do Rio (SMS) Alexandre Campos foi interrompida muitas vezes devido às vaias dos presentes no plenário da Câmara. Em previsão para 2019, o Núcleo de Apoio de Saúde da Família (NASF) caiu de 120 para 48, um dos cortes mais significativos.
Alisson Sampaio é um dos profissionais que compõe a Diretoria de Atenção Básica do Sindicato dos Médicos e sinaliza que a maior parte desse corte vai ser feita nos serviços que atendem problemas de saúde comuns na população. Segundo Alisson, essa desassistência significa um aumento nas internações em urgências de hospitais públicos, que já estão lotados. "A atenção primária à saúde pode ser resolutiva em até 80% dos problemas de saúde da população. É uma lógica não muito inteligente essa que o Crivella está utilizando", conclui.
Edição: Mariana Pitasse