Cerca de 70 mil pessoas lotaram os Arcos da Lapa na última terça-feira (23) para um movimento puxado por artistas, intelectuais e militantes de movimentos sociais e de cultura no Rio de Janeiro. O Ato da Virada com Fernando Haddad (PT) e Manuela D´Ávilla (PCdoB) começou no final da tarde com falas de representantes de todos os partidos e movimentos populares que compõem a Frente Pela Democracia no Estado do Rio.
O grande evento contra o autoritarismo e pela garantia de direitos também contou com a participação de grandes nomes da arte, da música e da literatura que contribuíram declarando apoio ao Haddad e a sua vice, Manuela, no segundo turno. Em seu discurso, Manuela falou sobre as próximas 100 horas que faltam até o segundo turno que podem definir o futuro do Brasil e indagou: "As nossas crianças poderão ter armas ou terão livros e sonhos?".
Já Fernando Haddad agradeceu a presença de todos, que ocuparam até o topo dos Arcos da Lapa. O candidato se mostrou confiante e citou a última pesquisa do Ibope que apontou um aumento na rejeição do seu adversário Jair Bolsonaro (PSL) no segundo turno. "Domingo nós vamos ganhar a eleição, eu não tenho dúvida, desde ontem eu estou sentindo no ar uma virada!", declarou. Ele também ressaltou a importância de dialogar com eleitores de Bolsonaro que muitas vezes precisam de uma palavra de acolhimento e generosidade, deixando o ódio de lado.
"Nos tempos que nós estamos vivendo, cinco dias é muito tempo pra virar essa onda boa de energia positiva, nós vamos ganhar essa eleição e mais do que isso, nós vamos compreender profundamente o significado dessa vitória pra saber dialogar e resgatar a dignidade das pessoas e a confiança na democracia, nas instituições, na classe política e no seu próprio destino. Vocês estão convidados a participar desse futuro, do lado da democracia e dos direitos", destacou Haddad.
Apoio
Diversas personalidade políticas do Rio de Janeiro foram muito aplaudidas e também fizeram discursos de esperança e resistência no início da noite. Entre elas estavam a recém-eleita deputada federal Talíria Petrone (PSOL), Jandira Feghali (PCdoB), Benedita da Silva (PT) e Tarcísio Motta (PSOL), terceira maior votação para governo do estado. Guilherme Boulos e Sônia Guajajara, do PSOL, também subiram ao palco. "Nós não vamos desistir dos nossos sonhos, o povo que sonha é imbatível. Jair Bolsonaro, não se ganha de véspera! Nós temos quatro dias e vamos seguir virando votos, dedicando todas as nossas energias pra derrotar o fascismo com Manuela e Haddad", disse Boulos.
Outros partidos como PPL, PROS, PCB, PDT, PCO, PSB, e PV também declararam apoio a chapa de Haddad e Manuela. O Partido Verde (PV) prestou homenagem à memória de Chico Mendes - ambientalista e ativista - ao condenar a agenda política ambiental de Bolsonaro, que, sugere, por exemplo, o fim do Ministério do Meio Ambiente. Também foi cobrado durante o ato que outros democratas se posicionem em favor de Haddad como fez recentemente Marina Silva, da Rede.
No ato, Mano Brown, Conceição Evaristo, Chico Buarque, Caetano Veloso, Leonardo Boff, Zélia Duncan, Marieta Severo e Juliana Alves foram alguns dos nomes que marcaram presença. Outros como Gilberto Gil e Marcelo Serrado deixaram sua mensagem em vídeo.
O pastor Henrique Vieira também esteve presente e comentou sobre a violência que o candidato do PSL reproduz em seus discursos. "A igreja tem que ser autônoma diante do Estado e dos partidos mas ela não pode ficar neutra diante da opressão e da violência, a igreja deve estar ao lado dos oprimidos e dos pobres desse país, esse é o lugar de Cristo na história. Jesus pediu que as pessoas se amassem, não se armassem", afirmou.
Para Marianna Dias, estudante de pedagogia e presidenta a União Nacional dos Estudantes (UNE), todos os atos este ano apontam para a resistência. "As manifestações dizem respeito a nossa sobrevivência, e se os movimentos sociais vão ter sua liberdade assegurada ou não", destacou. Ela lembrou ainda do processo que Bolsonaro ingressou contra a UNE na última semana no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que teve como objetivo silenciar a entidade maior de representação estudantil. "A censura já começou, ele nem chegou ao poder mas já mostra sua face autoritária", alertou Dias.
Edição: Jaqueline Deister