O resultado das eleições de 2018 para Presidente da República no Nordeste expressa as mudanças recentes ocorridas na região. É importante destacar que o PT só venceu em São Luís (PCdoB), Salvador e Teresina (PT), capitais cujos governadores são de partidos da chapa majoritária. Em Fortaleza, venceu Ciro Gomes, seguido por Bolsonaro, que foi vitorioso nas demais. No cerrado do NE, dominado pelo agronegócio, o PT ou alcançou uma magra vitória ou perdeu. Mas venceu no Semiárido. Por que? A resposta é simples. Nesta área ocorreram, recentemente, importantes mudanças estruturais, econômicas e sociais. O aumento real do salário mínimo, no entorno de 70%, elevou a capacidade de consumo da população e dinamizou as economias locais. O "Programa Bolsa Família" estimulou a circulação monetária e o crescimento econômico. O diálogo do Governo com os movimentos sociais permitiu que estes se organizassem fortemente no território. O "Programa Um Milhão de Cisternas" permitiu que fossem construídas, pela própria população, 1,1 milhão de cisternas. O "Programa de Aceleração do Crescimento 2" entregou às 1.154 prefeituras da área o “Kit Infraestrutura” para convivência com o Semiárido, nele inclusos máquinas, equipamentos e carro-pipa. O "Programa de Aquisição de Alimentos" e o "Programa Nacional de Alimentação Escolar", que determinam que as estatais e as escolas comprem a produção dos pequenos agricultores com preços pré-estabelecidos, impulsionaram o associativismo local e asseguraram rendas aos camponeses. Foi também no Semiárido que ocorreram grandes obras, gerando milhares de empregos, a exemplo da transposição do São Francisco, que modificou o interior de PE, PB, RN e CE. Implantou-se a Ferrovia Transnordestina, duplicaram-se rodovias, criou-se o "Minha Casa, Minha Vida Rural" e o "Programa de Assistência Técnica e Social" para mais de 4 mil assentamentos. Montou-se também uma importante malha educacional com programas de interiorização de universidades federais e implantação de institutos técnicos federais com impacto enorme na formação profissional da população. O Semiárido tem, hoje, 206 centros de educação superior e técnica e institutos de pesquisas. Enfim, essa enorme transformação explica facilmente a grande votação petista no interior do Nordeste.
* Regina Célia Gonçalves é professora aposentada da Universidade Federal da Paraíba.
Edição: Heloisa de Sousa
