INTOLERÂNCIA

Onda de violência contra eleitores de Haddad (PT) toma conta das ruas da Paraíba

Eleitores de Bolsonaro são autores de vários atos de violência por todo o país em plenas eleições

Brasil de Fato | João Pessoa (PB) |
 O fascismo, através da violência política e do ódio, começa a mostrar sua cara nas ruas de todo o Brasil.
O fascismo, através da violência política e do ódio, começa a mostrar sua cara nas ruas de todo o Brasil. - Divulgação

A Paraíba abre a caixa do medo - que havia se fechado desde a Ditadura Militar, a violência por motivação política, típica de tempos extremos - e agora é palco de vários casos de intolerância e ódio, praticados pelos eleitores de Bolsonaro. O candidato de extrema-direita, é um fremente incitador do ódio contra minorias, população negra e LGBT, e exibe como programa político, o combate à violência e o armamento avulso da população brasileira.
Antes e durante o período eleitoral, chegam notícias, em várias cidades, de práticas de intimidação, ameaça e agressão física. 
O próprio coordenador político do PSL no Nordeste, o dirigente partidário Julian Lemos, é um exemplo de hostilidade:  o Julian foi, por três vezes, alvo da Lei Maria da Penha, acusado de agressão pela irmã e pela ex-mulher. Além disso, o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) sofreu atentado a facada num ato de campanha, em Minas Gerais, por um cidadão chamado Adélio Bispo, no dia 06 de setembro. 

Na Paraíba

Um grupo de dois rapazes e duas garotas foram agredidos por eleitores de Bolsonaro no Centro de Campina Grande, na Paraíba. Os agressores usaram objetos cortantes e uma das vítimas teve o rosto cortado e foi para o hospital, no dia 07, dia das eleições.
O militante Ciro Caleb foi agredido no ônibus coletivo, em João Pessoa, porque discordou do discurso de um senhor, e gritou Lula Livre: o senhor o chamou de verme e lhe deu um tapa que não pegou no rosto, mas sim, no pescoço.
Outra militante conta que no dia da carreata do candidato a governador, João Azevedo, no primeiro turno das eleições, passou um carro todo adesivado, filmando o comitê, e apontando para as pessoas, como se fosse uma arma, com os dedos.
Já na carreata de Haddad (13/10), Jéssica Juliana, assistente Social e militante da Consulta Popular, relata que muitas pessoas faziam gestos de armas com os dedos, e um homem que estava em grupo, tomou a bandeira da sua mão e a queimou na sua frente.
“Isso é o típico espírito fascista que está nestas eleições, o ódio desenfreado a um partido e, também, os ânimos exaltados por um candidato que coloca abertamente que as pessoas devem de ter armas, e devem ser violentas. Para não esquecer o machismo, afinal éramos três mulheres e duvido que fizessem com a mesma facilidade a um homem.” Ela fala que se não fosse a carreata talvez tivesse sofrido violência física.
Diana Freitas de Andrade, defensora pública federal e vice-presidente do comitê de prevenção e combate à tortura na Paraíba comenta que a política no Brasil precisa ser recuperada: “Esses recentes ataques, que têm sido motivados por razões políticas, na verdade demonstram o quão distante estamos dela. A violência surge quando a política deixa de existir. A política pressupõe que as pessoas se relacionem, que ajam em conjunto, que haja interação social, uma ação coletiva, e a violência é justamente a negação disso tudo.”

Nas instituições de ensino

Nas salas de aula, vários confrontos com professores, contra e a favor dos fascistas. Professores sendo perseguidos e até demitidos por discutirem políticas sociais na sala de aula. Duas professoras de Patos foram demitidas da FIP – Faculdades Integradas de Patos. As professoras não interferiram na hora em que os alunos pronunciaram a sua escolha política em uma apresentação de trabalho na sala de aula, e por isso, foram demitidas, algo visto apenas na ditadura militar.

No dia da eleição, e após também, houve muitas denúncias nas redes sociais, de agressões verbais e intimidação apenas por vestirem camisa vermelha. A aluna Ingrid Araújo, do curso de Tecnologia de Produção Sucroalcooleira da Universidade Federal da Paraíba, relatou nas redes sociais que foi expulsa da sala de aula por um professor do curso, apenas porque usava uma camiseta com a imagem do Lula Livre. Segundo Ingrid o professor disse que ela o estava provocando com essa “desgraça de camisa, se soubesse o ódio que eu tenho!”. Ela conta que retrucou dizendo que não era motivo para a proibir de entrar na sala de aula.

“Eu sabia de meus direitos, sabia que ele jamais poderia proibir meu direito de assistir a aula por estar vestindo uma camisa que demonstra minha posição política. Me senti desmoralizada.”, lamenta a aluna. Segundo ela, estamos vivendo tempos sombrios e de retrocesso. “Vejo casos como o meu que terminaram em violência física, e em morte. É inadmissível você ser desrespeitado por mostrar suas ideologias, independente de partido político, todos nós merecemos respeito”, completa ela.

Os relatos no Brasil são estarrecedores

Jovem teve o símbolo nazista marcado em seu corpo por eleitores de Bolsonaro / Foto: Reprodução Facebook

Uma jovem de 19 anos que carregava uma mochila com um adesivo da bandeira LGBT e os dizeres “Ele não” foi atacada por três homens no dia 08 de outubro. Ela teve o símbolo da suástica, maior emblema do regime nazista alemão, marcado em sua barriga por um canivete.
Já a estudante e ativista Mayra de Souza, 27 anos, militante do movimento Levante Popular da Juventude, foi xingada e agredida com dois socos no rosto por um simpatizante de Bolsonaro, em Samambaia/DF.
O professor de geografia Nilberto Gonçalves sofreu agressão por eleitores do candidato. Nilberto é negro, estava com camisa do movimento negro e declarou votar em Haddad - na Cidade Nova/PA.
O caso mais revoltante foi, sem dúvidas, o assassinato do músico e mestre de capoeira baiano, Môa do Katendê, atingido com 12 facadas após discussão política. Môa foi fundador do Afoxé Badauê em 1978 e contribuiu com o bloco Ilê Aiyê e toda comunidade negra.
Por todo o Brasil chegam notícias diárias de agressões das mais variadas: uma funcionária pública espancada na rua, assassinato e espancamento de gays e travestis, agressão a jornalistas e ameaças de estupro, principalmente contra lésbicas.
Um estudante da UFPR com boné do MST foi agredido aos gritos de ‘Aqui é Bolsonaro!’ - o jovem foi brutalmente espancado por quatro integrantes de uma torcida organizada.
Segundo José Henrique Artigas, cientista político e professor da UFPB, a onda de violência é fruto do avanço das forças totalitárias: "não o totalitarismo do modelo europeu central, me refiro à característica própria do fascismo que se disseminou na América Latina e que agora ganha uma revivescência. Esse fascismo envolve um conjunto de fatores e o maior é a intolerância, a incapacidade de convivência com o ambiente democrático e pluralista. Sem isso não há democracia, e quando tendências políticas se afirmam anti-pluralistas elas não permitem contraposições e geram a violência.”
As violências não são apenas contra as pessoas, mas simbólicas, também. Por todo lado deflagram-se inscrições em banheiros de escolas, faculdades e locais turísticos com dizeres racistas, homofóbicos e contra nordestinas(os). Vários livros de direitos humanos foram rasgados na UNB, além do incidente da médica do RN que rasgou a receita de um paciente pró-Lula. Candidatos do PSL do RJ destruíram uma placa de rua com o nome de Marielle Franco em ato de campanha. Durante a eleição do dia 07 de outubro, várias fotos de eleitores apontando armas nas urnas foram postadas nas redes sociais.

Candidatos do PSL quebram placa de rua em homenagem a Marielle Franco. Foto: Divulgação.

Onu

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos emitiu uma declaração na sexta-feira (12) manifestando que o ONU está “profundamente preocupada” com o clima de violência nas eleições brasileiras. “Condenamos qualquer ato de violência e pedimos investigações imparciais, efetivas e imediatas sobre tais atos”, declarou a porta-voz do escritório da ONU, Ravina Shamdasani.
“O discurso violento e inflamatório dessas eleições, especialmente contra LGBTI, mulheres, afrodescendentes e aqueles com visões políticas diferentes, é profundamente preocupante, especialmente dado os relatos de violência contra tais pessoas”, declarou a porta-voz
 

Edição: Heloisa de Sousa