Foi realizada no final da tarde desta segunda-feira (15), no auditório do CPERS/Sindicato, em Porto Alegre, mais uma reunião do Comitê Inter-Religioso formado por lideranças e praticantes de diferentes matrizes espirituais que congregaram esforços em defesa da democracia e da justiça social. Frente ao cenário atual, onde uma candidatura se coloca declaradamente atrelada à extrema-direita, fomentando atitudes extremistas por parte de sua militância, os religiosos integrantes do comitê reforçaram sua posição em apoio à candidatura de Fernando Haddad e Manuela D’Ávila como única alternativa no atual cenário que garante a liberdade democrática, o respeito à diferença e a seguridade de existência às minorias.
Contando com a participação de religiosos católicos, protestantes, budistas, espiritualistas esotéricos, representantes de povos tradicionais de matriz africana e até mesmo ateus – o grupo conta ainda com a participação de muçulmanos e judeus - se colocou em debate o cenário que se projeta para a votação do segundo turno, reforçando a compreensão de resistência frente ao fascismo e a necessidade de se fortalecer os grupos de resistência, fomentando a fraternidade e a cultura da não-violência.
Para a pastora luterana Cibele Kuss, uma das mobilizadoras do grupo, a plenária serviu para renovação dos compromissos em defesa da justiça social e da democracia. “A espiritualidade tem uma forte dimensão política, porque se compromete e afirma a dignidade humana, os direitos de todas as pessoas, a importância de cuidar dos recursos naturais e de conviver na cultura da não-violência”. A orientação nessa perspectiva é a mobilização de comunidades religiosas através de um sagrado que as movimenta, que se coloca afirmando onde a cultura da não-violência dialoga com um projeto político (Haddad/Manuela), enquanto a afirmação da violência dialoga com a outra candidatura.
Do campo político quem marcou presença no encontro foi o deputado estadual reeleito Edegar Pretto, manifestando os compromissos já apalavrados pela coordenação da campanha de Fernando Haddad e Manuela D’Ávila para com as posições propostas em conjunto pelo Comitê Inter-Religioso. Para ele a criação do comitê é um ato a ser saudado, pois seguirá representando além do processo eleitoral “uma reflexão permanente, uma iniciativa comum de resistência em qualquer cenário”, frisando a importância do exemplo manifesto pelos diferentes campos do sagrado que deixam suas eventuais divergências de lado para sentar juntos e debater as pautas comuns que congregam seus anseios.
Comitê Inter-Religioso ratifica carta comum por dias melhores
Ao final da plenária, as cerca de 60 lideranças presentes ratificaram uma carta comum onde expressam suas motivações e reafirmam a posição quanto à eleição e ao futuro governo que se vai construir a partir de janeiro de 2019. No texto, desafiam suas comunidades a permanecer em vigília e fortalecer a espiritualidade coletiva e popular, organizando-se nas casas, templos, igrejas, terreiros, mesquitas, sinagogas, centros espíritas, bairros e comunidades para conversar sobre os impactos causados pelo racismo, machismo, xenofobia, ameaça de práticas fascistas, ódio às mulheres e LGBTfobia que tem se manifestado neste período. Desafiam a atuação nas comunidades religiosas, organizações sociais, movimentos populares para a formação de uma cultura democrática em contraposição à cultura da violência e do ódio, bem como reforçam a importância da revogação das reformas trabalhistas e do teto de gastos, a contrariedade frente a reforma da previdência e o apoio às reformas política e tributária. Alertam para a necessidade de garantir conquistas como emprego, saúde e educação, também renovando o compromisso com a laicidade do estado e contra toda e qualquer forma de intolerância religiosa.
“Em nossas comunidades, dialoguemos sobre a proteção das famílias a partir do afeto e do amor sem as hierarquias familiares propagadoras de violência doméstica”, expressa o documento, que ainda alerta: “Em um país religioso como o Brasil, não devemos ser porta-vozes nem do ódio e nem do medo, mas do amor e da esperança”. O Comitê Inter-Religioso relembra aos seus participantes o papel que lhes cabe como anunciadores e anunciadoras da paz, do diálogo, da solidariedade, da justiça, da cultura do encontro.
O texto destaca ainda que nenhum candidato ou governo pode se pronunciar em nome de Deus. “Quem se apropria do nome de Deus, de Jesus e da Bíblia para disseminar o ódio e atacar os direitos sociais está desrespeitando a democracia e promovendo a violência”, aponta a carta, por fim reafirmando a firmeza e destemor para que cada um e cada uma arregace suas mangas para fazer triunfar a esperança de dias melhores para todo o povo brasileiro.
Edição: Marcelo Ferreira