Candidato que vai enfrentar o ex-prefeito Eduardo Paes (MDB) no segundo turno na disputa pelo governo do estado do Rio, Wilson Witzel (PSC) coleciona polêmicas. Logo após obter 41% dos votos válidos no primeiro turno, anunciou que daria voz de prisão a Paes, sob alegação de que o ex-prefeito da capital estaria espalhando “fake news” sobre ele.
Dar voz de prisão em crime flagrante é um direito de qualquer cidadão, conforme estabelece o Código Penal do Brasil. Mas o anúncio do juiz e candidato foi criticado nas redes sociais. E o próprio Eduardo Paes respondeu que Witzel, que teve o dobro de votos do emedebista, não aceita críticas e que governar não é o mesmo que ser juiz.
Com a visibilidade que surpreendeu muitos eleitores do estado, já que só começou a crescer nas pesquisas de intenção de voto na última semana de campanha, Witzel passou de crítico a criticado. Na última segunda-feira (8), advogados e estudantes de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) denunciaram práticas de Witzel como professor substituto na instituição.
Integrante do Partido Social Cristão e aliado do candidato do PSL à presidência da República, Jair Bolsonaro, Witzel é criticado pelos advogados e estudantes de Direito por estar associado ao “obscurantismo fundamentalista” do Pastor Everaldo, presidente do PSC, e ao “fascismo sem pudor, sem humanidade, sem compromisso democrático” de Bolsonaro.
“As deficiências técnicas e a falta de comprometimento com o magistério não são, contudo, a principal razão que nos move a assinar este manifesto. Como advogados e estudantes de Direito, juramos solenemente ‘defender a Constituição, a ordem jurídica do Estado Democrático, os direitos humanos e a justiça social’. Nesse sentido, alertamos à sociedade que a candidatura do ex-magistrado está profundamente associada a duas graves ameaças que se confundem e se retroalimentam”, diz o documento, assinado por mais de 200 profissionais da área.
Nas redes sociais, mais dúvidas foram lançadas sobre o candidato, desta vez por seu filho mais velho, Erick Witzel, de 24 anos. No Instagram, o rapaz comentou o resultado das eleições que levaram seu pai ao segundo turno. “Seguimos rindo para não chorar, porque a vontade é sumir. Um dia triste para a história do nosso estado e do nosso país”.
Proposta de acabar com Secretaria de Segurança provoca polêmica
Enquanto a população sofre com os governos de Michel Temer (MDB) e de Luiz Fernando Pezão (MDB) no Rio de Janeiro e a intervenção federal das Forças Armadas só piora os índices de violência, o candidato do PSC ao governo do estado, Wilson Witzel, declara que vai acabar com a Secretaria de Segurança Pública. A proposta provocou preocupação entre especialistas.
“A Secretaria não envolve apenas a Polícia Militar, mas também a Polícia Civil, que constrói informações para o Judiciário. O candidato ignora isso e essa ignorância revela uma concepção em que o Poder Executivo é imaginado absolutamente desintegrado de uma articulação com o Judiciário, já que uma delegacia de polícia deve construir informações e dados voltados para a produção sistêmica da ordem”, aponta Lenin Pires, professor do Departamento de Segurança Pública da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Segundo o pesquisador do tema, a declaração de Witzel, que foi dada em um vídeo publicado no Facebook, espanta por se tratar de um juiz federal que deveria ter conhecimento das consequências dessa proposta de desarticulação das polícias.
“Essa declaração é extremamente perigosa, porque pode inclusive sucatear as potencialidades das polícias e apontar na direção de uma maior desintegração do sistema. Ele (Witzel) demonstra desinteresse de ser o articulador de um sistema que integra as polícias e se referência nas regras, nas leis e nas normas”, avalia Lenin Pires.
Você sabia?
No domingo anterior ao primeiro turno da eleição, Witzel participou de um ato de campanha em Petrópolis (RJ) em que candidatos do PSL, partido aliado, destruíram uma placa com o nome da vereadora Marielle Franco (Psol), assassinada em março deste ano. A placa foi arrancada de uma rua da Cinelândia, no Centro do Rio, e quebrada diante e eleitores. O candidato do PSC disse ainda que a investigação, caso vença a eleição, não será prioridade. A declaração contraria até mesmo a ONU, que julgou prioritária a solução do crime, já que Marielle combatia os abusos da polícia e a violação de direitos da população moradora das comunidades do Rio.
Edição: Mariana Pitasse