A disputa no segundo turno da eleição para governador em São Paulo coloca frente a frente dois políticos distintos e, dependendo do resultado, pode criar um racha dentro do ninho tucano.
Márcio França, do PSB, fez carreira política no litoral paulista, onde começou a militância política. Neste mandato, assumiu o governo do estado após Geraldo Alckmin deixar o cargo para disputar a presidência da República, pelo PSDB. França tem uma boa relação com parte dos caciques tucanos, ao mesmo tempo que recebe elogios e recomendações da militância histórica da esquerda paulista.
Já João Doria, que encabeça a chapa pelo PSDB, não é o sucessor natural de Alckmin e, recentemente, trocou farpas com o antigo padrinho. Sem grande experiência política, ele usou a Prefeitura de São Paulo para primeiro se projetar como possível candidato à presidência, o que foi um grande fracasso, e, posteriormente, deixar o cargo para concorrer ao governo.
A ex-prefeita de Santos, Telma de Souza, que comandou a prefeitura no final dos anos 80, com índice de aprovação de 97%, conhece França há mais de 30 anos, e fez comparações entre ele e Dória.
"A relação de confiança com o Márcio é que ele cumpriu todos os seus mandatos e continuou caminhando. Fazendo um paralelo, um tem experiência política, o outro chegou por agora. Um cumpre os mandatos até o fim e tem palavra, o outro abandona e só faz saltos para galgar poder sem uma estrutura de governo sólida. O Márcio nunca foi varrer, fantasiado de gari, a cidade. Como o Doria fez para criar um fato deplorável para quem detém mandato público, disse a ex-prefeita de Santos.
De acordo com Telma, a gestão de Márcio França à frente da Prefeitura de São Vicente, durante dois mandatos, de 1997 a 2000 e de 2001 a 2005, foi marcada pelas políticas sociais.
O cientista político Rodrigo Gallo analisou as duas candidaturas que estão na briga pelo segundo turno em São Paulo.
"A disputa entre o Dória e o França expõe algumas disputas dentro do próprio PSDB. O França foi o vice do Alckmin e houve uma série de problemas internos dentro do partido que colocaram em oposição o Alckmin e o Dória. O partido está enfrentando algumas fraturas internas. Existe um desarranjo de forças ali dentro. Também, olhando de fora, o França é um outsider nesta disputa eleitoral. E de repente, na campanha, na reta final dos últimos 15 dias, ele começou a crescer. Isso mostra pra gente que, uma parte do eleitorado de São Paulo, está começando a questionar essa manutenção do PSDB no poder estadual. O desafio do Dória é conter essa grande alta do França".
Segundo Gallo, uma eventual derrota de Doria fortalece as forças internas contra ele no PSDB e, provavelmente, sem espaço e prestígio o ex-prefeito vai ter que abandonar o ninho tucano.
Na votação do primeiro turno, Doria teve 6,43 milhões de votos (31,77% dos votos válidos). Já França conseguiu uma vaga no segundo turno com 4,35 milhões de votos (21,53% dos votos válidos). Essa diferença de cerca de 2 milhões de votos para que o candidato do PSB supere o ex-prefeito da capital podem vir tanto dos eleitores do Paulo Skaf (MDB), que fechou o primeiro turno com 4,26 milhões de votos, como também do petista Luiz Marinho que recebeu cerca de 2,5 milhões de votos.
Márcio França foi duas vezes vereador em São Vicente e duas vezes deputado federal por São Paulo. Por sua vez, Dória, antes de ser prefeito da capital, tinha no currículo de gestor apenas uma passagem sem grandes realizações pela secretaria de turismo de São Paulo, por indicação de Franco Montoro, no começo dos anos 1980.
Edição: Tayguara Ribeiro