Em 20 dias de campanha amealhou mais de 30 milhões de votos e está no 2º turno.
Ano 2000. Eleição municipal no Recife, capital de Pernambuco. O prefeito Roberto Magalhães (do então PFL, atual DEM) era favoritíssimo para se reeleger e não tinha opositor à altura nas pesquisas eleitorais. Nos debates da TV, o advogado constitucionalista, ex-governador, ex-deputado, desdenhava da maneira simples de falar do sindicalista e deputado estadual do PT, João Paulo. Em sua campanha, o PT batia nela lembrando um fato ocorrido um ano antes: o prefeito havia entrado na redação do Jornal do Commercio com uma arma na cintura para ameaçar um jornalista. (Leia aqui).
De tanta certeza na vitória, a campanha do PFL errava muito. João Paulo chegou ao segundo turno, tornando Recife em uma espécie de Meca para a militância petista, que vinha de outras cidades e estados para ajudar na campanha. Roberto Magalhães continuou errando e chegou a oferecer uma "banana" para militantes que o provocaram em uma carreata. O gesto obsceno foi captado pelas lentes de um repórter fotográfico e ganhou destaque nos jornais.
Sob ameaça de derrota, o então governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) disse uma célebre frase em um comício: "Vim vestido de governador, com esta gravata, mas a estou tirando para dizer que ela vai para o armário e eu só vou pegá-la no dia 30. Se o outro lado tem militância, nós temos uma muito maior e, se eles têm garra, nós temos mais”.
Ano 2018. Segundo turno das eleições presidenciais mais dramáticas do Brasil desde a Constituição de 1988. De um lado Bolsonaro, o candidato de extrema-direita, favorito, inflado pelo discurso de ódio e com agenda político-econômico ultraliberal. Do outro lado, Fernando Haddad, candidato do PT e do ex-presidente Lula. Em 20 dias de campanha amealhou mais de 30 milhões de votos e está no segundo turno. Tem o desafio de comprovar que pode retomar uma agenda de centro-esquerda, que prioriza o bem-estar social e os investimentos públicos para tirar o Brasil da crise.
O governador Paulo Câmara (PSB) está reeleito no primeiro turno, com a ajuda da aliança com o PT. Jarbas Vasconcelos será senador depois de uma campanha vitoriosa ao lado do reeleito senador Humberto Costa (PT). Fernando Haddad já se dirigiu ao governador de Pernambuco. "Falei com Paulo Câmara, tenho todo o interesse que as forças democráticas estejam reunidas nesse segundo turno", afirmou em entrevista coletiva.
Então é legítimo perguntar: qual será a postura de Paulo Câmara e Jarbas Vasconcelos nessas próximas três semanas de segundo turno? Irão estes tirando a gravata, arregaçar as mangas e pedirem o voto dos seus eleitores para Fernando Haddad? Têm alguma dúvida entre o bem-estar social ou a barbárie? Pernambuco é um Estado politizado e as lideranças locais influenciam muito nos resultados. Portanto, ajudará na vitória se o atual e ex-governador tirarem a gravata e pedirem voto para Haddad!
*Jonatas Campos é jornalista, ex-repórter de jornais locais, da Revista Caros Amigos e ex-correspondente na Venezuela pelo Opera Mundi e Brasil de Fato.
Edição: Daniela Stefano