Na véspera do primeiro turno das eleições 2018, as mulheres ocuparam as ruas novamente para se posicionar contra o candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL). Sob a palavra de ordem “ele não, ele nunca, ele jamais”, mais de 20 mil pessoas participaram da manifestação que ocorreu neste sábado (6) com início na Avenida Paulista, em São Paulo.
Luka Franca, militante do movimento negro e feminista, avalia que o ato de hoje foi essencial para demonstrar a força das mulheres contra Bolsonaro.
”Demos uma resposta de resistência e mostramos que a subida do Bolsonaro [nas pesquisas] não foi por conta dos atos massivos do dia 29 e sim por conta da articulação dele com os setores evangélicos. E também deixamos uma lembrança: amanhã, todas as mulheres vão às urnas dizer não a ele. Não deixaremos o Bolsonaro ganhar as eleições. Não deixaremos a ditadura e o fascismo se implantarem no país”, afirma a ativista, que participou da organização do ato.
Franca relembra que a atuação política de Bolsonaro contra as mulheres é antiga. Há cinco anos, por exemplo, o candidato votou contra a PEC das Domésticas, que regularizou o trabalho doméstico realizado, em sua esmagadora maioria, por mulheres negras.
“Ele representa o aumento de morte dos nossos filhos. Representa o aumento de nossas próprias mortes porque não se preocupa em nenhum momento em pensar o combate ao feminicídio, e mais do que tudo, não se preocupa com nossos empregos”, complementa.
Guilherme Leite, professor de história, também ocupou as ruas neste sábado contra Bolsonaro. Homem negro, Leite ressalta a importância de manifestações contrárias ao plano de governo do candidato do PSL.
“Nós somos vozes da minoria. Estamos contra essa gama fascista, esse pensamento do retrocesso. Viemos ajudar a eliminar esse mal que está nascendo e se enraizando”.
Para Isabela Adorno, é preciso deixar claro que ameaças fascistas sempre existiram, mas estão em crescimento acelerado.
“Quem sempre foi marginalizado ainda está sendo marginalizado. Não querem que as mulheres, os negros e as LGBT tenham oportunidades. Ele não pode chegar no poder, ele é um representante do ódio. E estamos aqui contra o ódio”, reforça a historiadora.
Contra a intolerância
Segundo Hailey Kaas, mulher trans e ativista LGBT, as manifestações contra Bolsonaro mostram que, por mais que o presidenciável tenha muitos eleitores, há também muitos opositores. Ela alerta que, para a população LGBT, o discurso de Bolsonaro não representa apenas um risco simbólico, mas sim uma ameaça à integridade física.
“Bolsonaro defende um projeto de sociedade que é um projeto onde a liberdade de expressão, seja a de falar ou de ser quem é, está em risco. Não só com os projetos que ele defende como o Escola Sem Partido, que defende que não devemos discutir sobre questões trans ou questões de gênero, mas também porque a própria existência da população LGBT para ele e para o projeto que defende é uma aberração”, diz Kaas.
O engenheiro Henrique Chaguri acredita que o plano de governo de Bolsonaro vai na direção oposta ao de um projeto popular. “Um retrocesso total, não só para o Brasil como para a humanidade”, resume.
“Teremos um segundo turno acirrado, com muita expectativa contra o Judiciário, contra a mídia, contra a todos que atuam contra os movimentos populares e sociais. Contra tudo que está sendo divulgado pela direita brasileira”, prevê Chaguri.
O ato contra o candidato do PSL caminhou pela Consolação e terminou no Teatro Municipal, centro da cidade.
Edição: Diego Sartorato