DIVERSIDADE

"Futebol é coisa de veado"

No Rio Grande do Sul, 6 times de homens gays integram um movimento que tem por lema “Esporte para todos”

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Atletas comemoram a segunda edição da Champions Ligay, em Porto Alegre
Atletas comemoram a segunda edição da Champions Ligay, em Porto Alegre - Foto: Jônatha Bittencourt

E se todos os jogadores em campo fossem, de fato, veados? Aqui no Estado, 6 times de homens gays integram um movimento que tem por lema “Esporte para todos”: Magia, PampaCats, Quero Quero, Maragatos, Ximangos e Flamingos. 

Futebol se joga na escola, na aula de educação física, no recreio - parece simples, só se integrar com as outras crianças e brincar. Mas essa não é a realidade dos meninos que têm trejeitos considerados femininos. “Sempre foi muito comum escutar ‘sai daqui, veadinho, futebol não é pra ti’, então esse é um dos pontos comuns que nos une, essa questão de ter sofrido preconceito dentro do futebol”, comenta David Reis, vice-presidente de Controle e Gestão do Sport Club PampaCats. 

Diante da dificuldade de acessar um direito básico garantido pela Constituição Federal de 1988, alguns LGBT do Rio Grande do Sul (RS) se uniram para criar times de futebol em que se sentissem confortáveis, à vontade para serem eles mesmos dentro de campo. São atendentes, estudantes, motoristas, engenheiros, publicitários, historiadores - gente das mais diversas profissões e de diferentes idades. O primeiro a ser fundado foi o Magia Sport Club, no ano de 2005. O segundo se instituiu 13 anos depois, em agosto de 2017, os PampaCats, e todos os outros surgiram esse ano: os Maragatos e o Quero Quero (de Gramado), em maio, os Ximangos e os Flamingos (de Pelotas), em julho. 

Em 2018, o RS se destacou pela organização de campeonatos LGBT. Porto Alegre sediou em abril a segunda edição da Champions Ligay. De acordo com o realizador do evento e presidente do Magia Sport Club Carlos Renan Edvalt, cerca de 1300 pessoas passaram pelos dois dias de torneio, sendo 400 delas de fora do Estado. Participaram da competição 12 equipes de 6 Estados mais o Distrito Federal. “Foi um evento lindíssimo, não teve um ato de violência. Foram extremamente divertidos os dois dias e com muito futebol bonito em campo”, relembra Renan.

Em agosto, a 1ª Copa Gramado de Futsal LGBTI agitou a Serra gaúcha. “Foi uma quebra de paradigmas para uma comunidade pequena como a de Gramado que nunca havia tratado desse tema de forma tão aberta”, comenta Flávio Prestes, organizador e presidente do time anfitrião Quero Quero. O campeonato mais recente foi o GayPrix de vôlei, organizado pelos PampaCats, que contou com cerca de 1500 pessoas entre jogadores, organizadores e torcedores. 

Infográfico: Luiza Dorneles

Homofobia no Mineirão

“Ô cruzeirense, toma cuidado, o Bolsonaro vai matar veado!” era o canto homofóbico entoado por torcedores do Atlético-MG no domingo, dia 16 de setembro, em jogo contra o rival Cruzeiro pela 25ª rodada do campeonato Brasileiro. O Clube Atlético Mineiro (CAM), em publicação no Facebook, afirmou que “lamenta profundamente as manifestações homofóbicas de parte dos torcedores, no jogo deste domingo, no Mineirão” e alertou que a torcida do clube é composta por “pessoas de todas as classes sociais, raças e gêneros, não cabendo qualquer tipo de discriminação”. 

O grito da torcida incita a morte de toda uma comunidade de lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis e transgênero (LGBT) que muitas vezes não se sente segura sequer de caminhar nas ruas e ainda luta por inclusão em todos os espaços. 

Para além de um pedido de desculpas, os clubes devem aplicar políticas efetivas de combate à LGBTfobia tão presente no futebol brasileiro. Isso vale para qualquer instituição esportiva minimamente preocupada com a justiça, a liberdade e a democracia. 

A cada 19h, uma pessoa LGBT é assassinada ou se suicida no Brasil segundo levantamento do Grupo Gay da Bahia (GGB) realizado em 2017. 


Este conteúdo foi originalmente publicado na versão impressa (Edição 6) do Brasil de Fato RS. Confira a edição completa.

Edição: Marcelo Ferreira