Coluna

A fake news do WhatsApp de Bolsonaro pode ser combatida

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É FALSA a imagem em que Manuela D’Ávila aparece com camiseta “Jesus é Travesti”
É FALSA a imagem em que Manuela D’Ávila aparece com camiseta “Jesus é Travesti” - Imagem: Combata Fake News / PT
É preciso ser frenético, constante e eficaz na distribuição de conteúdos

Convenhamos. A distribuição profissional, sistemática e frenética de notícias falsas em grupos e linhas de transmissão de WhatsApp tem sido um dos fatores da largada de Bolsonaro à frente na corrida eleitoral e seu crescimento. Faz uma semana que estou em dois desses grupos para poder escrever esse artigo. 

É relativamente fácil entrar neles pois estão desprovidos de rigorosos filtros. Não são grupos de dirigentes. São, basicamente, centrais de distribuição de notícias – a maioria falsas -, agressões, orientações legais sobre campanha, frases de efeito e muita mobilização. 

Os grupos são lotados de participantes de todo o Brasil. Existe um sistema de distribuição das mensagens, que chegam por meio de perfis desconhecidos. Provavelmente, pessoas das agências de publicidade. Após isso, sucede-se uma frenética repetição daquele mesmo conteúdo – inclusive no próprio grupo -, com os militantes digitais espalhando o que lhes convém, como pude comprovar em outros grupos de outras temáticas nos quais participo, a partir dos quais pude entrar nos grupos da campanha de Bolsonaro.

Esqueça qualquer civilidade na quantidade de postagem. Não existe frases como: "Opa, desculpa, não vi que já haviam postado essa matéria". A dinâmica é tão intensa que há uma profusão de conteúdos, todos produzidos sem profissionalismo, com fotos de baixa qualidade, pois os militantes digitais aproveitam o agrupamento de gente de todo o Brasil para apresentar seus próprios conteúdos e suas próprias invenções. 

Desde o início da semana, depoimentos de pastores de igrejas neopentecostais evangélicas são sistematicamente distribuídos. Orientações bastante organizadas de como realizar carreatas, sobre a polêmica de usar ou não camisetas no dia das eleições, horários de abertura e fechamento de urnas, como produzir material de propaganda e quais são os deputados federais e estaduais em todo o Brasil que estão com Bolsonaro são repetidas diuturnamente. 

Há também vídeos com gente morrendo, torturas e agressões. Assisti a um vídeo de um homem tendo seus dedos decepados, de uma mulher sendo espancada e policiais matando assaltantes nos Estados Unidos. Todos acompanhados de piadinhas e gracejos apoiando o porte de armas. Fotos de crianças segurando armas e diversas versões da bandeira dos Estados Unidos são postadas centenas de vezes. 

Apesar de tudo isso, não é impossível combater esta estratégia, ou ao menos, equiparar-se a ela. A militância digital de esquerda é mais cuidadosa e honesta em seus conteúdos. Mas acredito que é preciso ser frenético, constante e eficaz na distribuição de conteúdos. O tal “Zap de Lula” para combater as fake news é interessante e funciona como essas agências de fact checking: servem para fazer justiça com a informação. Mas até que ponto chega, de fato, no sub do sub do submundo do WhatsApp? 

Entendamos. Há cinco anos uma notícia falsa era mais elaborada e permanecia na agenda da imprensa e nas discussões de bar por uma ou duas semanas. A estratégia da campanha de Bolsonaro é diferente. Cria-se uma avalanche de notícias, acusações, montagens das mais absurdas, de forma que seja quase impossível desmentir todas e, no caso de investir tempo neste trabalho, seja improvável da resposta chegar ao receptor da mentira. É um terreno sem lei, sem regras, sem ordem onde impera a desinformação. É nesse ambiente que Bolsonaro está ganhando eleitores.

Esqueçam, portanto, aquela angústia em "desmentir" uma mensagem de que Haddad ou Ciro bateram em suas esposas. Poste em seguida uma foto deles com suas famílias. Esqueça a ideia de contestar um vídeo de um assaltante sendo baleado. Isso é realidade na vida de muita gente. Fale de economia, das críticas do vice de Bolsonaro ao 13º salário, do aumento do imposto de renda, dos votos do extremista em favor das políticas de Michel Temer.

Exemplo de conteúdo que podemos disseminar é um vídeo bastante didático, inspirado na corrida dos $100, que exemplifica quantos passos as pessoas podem dar em suas vidas quando são beneficiadas por programas sociais; que as políticas públicas podem diminuir as desigualdades e tornar a corrida mais justa.

Fale de paz. A paz não é monopólio das religiões. Peça voto para deputados e deputadas de esquerda. Não fomente briga entre o campo democrático. Não merecemos uma longa noite fria de um governo de Bolsonaro. Acertaremos divergências em outro momento, agora à luta é contra a barbárie!

*Jonatas Campos é jornalista, ex-repórter de jornais locais, da Revista Caros Amigos e ex-correspondente na Venezuela pelo Opera Mundi e Brasil de Fato.

Edição: Daniela Stefano