As eleições se aproximam e os cristãos evangélicos se encontram mais uma vez diante de dilemas e dificuldades. É com imensa tristeza que acompanhamos os últimos fatos que tem se sucedido entre os cristãos evangélicos (protestantes históricos, pentecostais, neopentecostais, etc.).
Este ano, como em nenhuma outra eleição ocorrida em nossa jovem e tão frágil democracia, instituições, pastores, bispos, apóstolos, líderes têm não só se manifestado a favor de um candidato, mas trabalhado, quando não coagindo, pressionando os irmãos e irmãs em Cristo, de modo a identificar o candidato como representante oficial da igreja, do cristianismo e dos evangélicos.
Primeiro, precisamos lembrar que não há muito tempo, em um dos momentos mais tristes da nossa história recente, durante a ditadura militar (1964-1985), muitos irmãos e irmãs foram perseguidos, presos, alguns exilados, outros tantos torturados e mortos pelo Estado brasileiro. Neste momento, muitos irmãos foram entregues as forças de repressão por membros de suas próprias igrejas, muitas vezes com o conhecimento e aprovação de suas lideranças. Novamente, as igrejas evangélicas se encontram diante de momento semelhante.
Muitos pastores, líderes em gerais, tem agido sobre seus liderados de modo a convencê-los que há um candidato a presidência que fala em nome de Cristo e dos evangélicos. Ao mesmo tempo, trabalham para acusar aqueles e aquelas que não aderirem a tal candidato de pecadores, traidores do evangelho e da igreja, expondo-os diante de toda a comunidade.
Não suficiente, a campanha do candidato que muitos pastores e líderes tem pregado mais que o próprio Cristo tem se fundado e expandido em cima de mentiras. Mentiras propositalmente forjadas para intimidar, escandalizar, assustar e pressionar fiéis, utilizando de uma suposta autoridade eclesiástica, de um poder divino. É a volta do voto do cabresto, do cajado, do medo, da mentira. O evangelho utilizado para validar mentiras.
É com tristeza que se percebe a completa descaracterização da fé evangélica. O protestantismo, os evangélicos, surgem da reforma protestante, que tem como sua base a de que ninguém é representante oficial de Deus. Todas e todos temos livre acesso a Deus, através de Cristo, e ao livre exame da Bíblia. Não há papa para os evangélicos. Seu pastor, líder, bispo, aposto, não tem autoridade para determinar em quem você deve ou não votar, muito menos de definir quem é ou não um cristão.
Tais pastores e líderes tem se utilizado de seu poder, de seus púlpitos, de seus cultos e de sua autoridade para disseminar mentiras, por ingenuidade ou por má-fé. Além disso, isto tem sido feito em nome de uma candidatura que se ergue em violência, ódio e autoritarismo. Negam o evangelho e clamam por um messias, um falso messias, que ao invés da cruz, prefere a bala, que ao invés do amor ao próximo e ao seu inimigo, escolhe o ódio, que ao invés da acolhida, prega a intriga, a perseguição, que ao invés da justiça, incita a vingança, que ao invés da paz, milita pela morte.
Muitos pastores, líderes, irmãs e irmãos em Cristo, tem se esquecido, que não possuímos mérito algum em nossa salvação. Se somos Cristãos é por única e exclusiva ação de Deus, por expressão de seu amor, que nos resgatou quando estamos mortos e separados dEle. Não há mérito algum que nos faça agirmos como se o próprio deus fossemos.
Cristo, no sermão do monte (Mateus capítulo 5) é muito claro, ao chamar de bem aventurados os humildes de coração, os mansos, os pacificadores, os misericordiosos, e todos aquele que almejam a justiça. O Sermão do Monte (Mateus, capítulos 5, 6 e 7) nos diz e lembra como devemos caminhar neste mundo. Nos lembra que o caminho proposto por Cristo é as vezes diferente do que desejamos em nossos corações.
Com isso, muitos Cristãos tem se entristecido e revoltado ao verem suas igrejas, seus líderes, apoiando um candidato que é contrário a mansidão, aos que choram, ao que tem fome e sede de justiça e aos misericordiosos. O nome de Cristo não tem sido usado em vão ao apoiarem tal candidato, mas tem usado para fins perversos. Não a toa tal apoio se alicerça em mentiras e mais mentiras, em ódio e mais ódio, em violência. Este candidato tem prometido mais violência, inclusive econômica, contra toda aquele que não for homem, branco e rico. Ele se parece em nada com Cristo, mas como aquele que a Bíblia diz que “respirava ameaças e morte contra os discípulos do Senhor” (Atos 9:1).
Tenho notícias de muitas amigas e amigos que tem sido agredidos verbal e fisicamente nos últimos meses por apoiadores de tais candidato. Tenho visto líderes, pastores, dizendo que este, que já tem levado seus apoiadores a perseguirem e agredirem os que não dizem amém, é a ÚNICA opção para os cristãos, dizendo que você, querida irmã e querido irmão que não concorda com ele, está pecando ao votar em outro candidato. Tais pastores e lideranças dizem servir a Cristo, mas agem como Herodes.
Não. Não aceitaremos mais calados a escalada de mentiras, falsas acusações e intimidações que pastores e líderes religiosos tem feito. A mentira e o ódio não irão resistir. Irmã e irmão em Cristo que não concordam com a violência, o ódio, a vingança e a intolerância, que nós possamos andar juntos, contra o autoritarismo. Irmãs e irmãos em Cristo que tem sofrido pressão de seus líderes e pastores: eles não mandam em vocês, nem tem autoridade divina para isso. Lembremos que o evangelho de Cristo não aceita mentiras, autoritarismo, violência e ódio. Que nós, evangélicos, possamos anunciar o verdadeiro Reino de Deus e não uma candidatura que prega trevas, choro e ranger de dentes.
*Calebe Louback Paranhos é membro da Igreja Presbiteriana do Brasil
Edição: Daniel Giovanaz