Em sua terceira edição, realizada em Vitória (ES), a feira estadual reuniu movimentos e coletivos urbanos e rurais
A cidade de Vitória recebeu mais uma edição da Feira da Reforma Agrária do Espírito Santo, entre os dias 13 e 15 de setembro. Há três anos, a Praça Costa Pereira, centro da capital capixaba, acolhe o encontro, a integração e o diálogo entre campo e cidade, proporcionado pela feira.
Os visitantes tiveram a possibilidade de encontrar uma farta produção de alimentos e produtos agroindustriais trazidos de assentamentos da reforma agrária de diversos municípios do estado. Tudo vendido diretamente pelos produtores. Plantas medicinais é outro item sempre presente e em grande variedade.
Troca de saberes
No Espaço Saúde, integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ofereceram aos visitantes terapia reiki, acupuntura e ventosa, além de chás e fitoterápicos.
Uma das responsáveis pelo espaço, Rosângela Pereira, do Assentamento Piranema, no município de Fundão, fala da importância do resgate dos saberes populares, promovido com a feira.
“É uma troca de saberes. Na primeira feira, a gente trouxe bastante muda de plantas medicinais. Agora, as pessoas da cidade vêm também ao encontro desas plantas, ensinando também as receitas que a avós ou as tias já lhes ensinaram. É uma troca, uma coisa que não acabou, está adormecida no ser humano. Tem muitas pessoas que ainda preferem usar as plantas e ervas medicinais”, ressalta.
Coletivos urbanos ligados à agroecologia também promoveram esse intercâmbio de experiências, conhecimentos e sementes com agricultores rurais e urbanos, nos estandes. Os organizadores da Feira visitaram a Horta Comunitária Quintal na Cidade, para conhecer a experiência.
“Nós tivemos uma roda de conversa na horta com o pessoal do MST e eles ficaram encantados com o local, em saber que é no centro de Vitória que a gente tem um espaço, onde [antes] era uma rua abandonada que a gente transformou numa horta. Onde era lixo e mato, hoje só tem coisas boas", relata Márcia Tércio, uma das integrantes do projeto.
Juntos e misturados
Na programação cultural, cidade e campo apresentaram suas atrações. Dos assentamentos vieram o grupo de forró Chapéu de Palha e a peça “As Veias Abertas da América Latina”, apresentada pelo grupo teatral da escola do Assentamento 13 de Setembro. Samba, rap e Batalha de MCs pela Reforma Agrária também subiram ao palco da feira.
“É bacana a gente estar interagindo, o Hip Hop subindo no palco do MST. Várias vezes a gente subiu junto, participamos de várias ações. Nós somos movimentos irmãos, não dá pra ficar esperando as coisas acontecerem, tem que tá mesmo ajudando, contribuindo com a ação como um todo”, disse Édson Sagaz, rapper, ativista e morador de Vitória.
Na Tenda Literatura e Educação no Campo, teve exposição de materiais educativos produzidos em salas de aula pelos próprios alunos das escolas do campo e diversos títulos de agroecologia e temas sociais da Editora Expressão Popular.
“Pessoas da cidade têm procurado muito sobre agricultura urbana, livros para aprender a manusear o solo, quais tipos de planta, saber mais sobre como é o campo. É uma literatura muito vasta que a gente tem aqui, são muitos tipos de livros e livros muito mais na perspectiva crítica, numa literatura crítica que não se encontra na maioria das livrarias que se tem. Também as próprias pessoas do movimento sabem da importância da literatura para o movimento”, explica Larissa Loyola, representante da editora.
Lucas Sangi, integrante do Coletivo Casa Verde, elogiou a iniciativa da feira. “Acaba conhecendo o que eles fazem, como que funciona a educação do campo e outros produtores que são locais aqui, e a gente acha que tá tão distante. E sem contar a desmistificação do que é o MST e o que é a Reforma Agrária. Traz um lado muito bonito da coisa”.
Rosângela, do MST, acrescenta que a receptividade e satisfação com a feira demonstra que as pessoas estão adquirindo consciência. “A feira te proporciona produtos sem agrotóxico. Então, você já fica feliz porque você não está ingerindo veneno. E você fica contente em saber que as pessoas têm interesse em começar a mudar, em melhorar sua alimentação”.
Edição: Cecília Figueiredo