Coluna

Ameaçar o 13º Salário foi o mais grave revés da campanha de Bolsonaro

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O 13º salário é pago a aproximadamente 83 milhões de brasileiros e injetou na economia R$ 200 bilhões em 2017
O 13º salário é pago a aproximadamente 83 milhões de brasileiros e injetou na economia R$ 200 bilhões em 2017 - Divulgação Prefeitura de Piraí
Candidato do PT deve convencer inclusive eleitor de Lula a votar em sua classe

O que fez o candidato a vice da chapa de Jair Bolsonaro (PSL), General Mourão, diz muito da irresponsabilidade desta candidatura e do perigoso ambiente que acerca essas eleições. Em um país de assalariados desdenhar do 13º salário é uma irracionalidade tão grande, que qualquer cálculo eleitoral mínimo avaliaria como danosa à campanha uma mínima crítica a este instrumento consolidado pela Constituição Brasileira. A não ser que o candidato não tenha consideração nenhuma pelo acordo civilizatório (a Constituição) de nossa sociedade.

O 13º salário é pago a aproximadamente 83 milhões de brasileiros e injetou na economia R$ 200 bilhões em 2017. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), corresponde a 3,2% do Produto Interno Bruto (PIB) do país pago aos trabalhadores do mercado formal. Um hipotético fim do pagamento do 13º salário teria um impacto desastroso, primeiramente na classe trabalhadora e, em segundo lugar, no comércio, de onde faz parte os atentos ouvintes do General Mourão, na Câmara dos Dirigentes Lojistas onde foi aplaudido.

Além desse que foi um dos mais graves reveses da campanha de Bolsonaro, tem aparecido muitas notícias desfavoráveis a ele. A denúncia do jornal O Estado de São Paulo, ampliada pela revista Veja, sobre as ameaças que teria feito a sua ex-mulher. O adiamento de sua alta hospital. O crescimento de Fernando Haddad em todas as pesquisas paralelamente ao aumento da rejeição ao candidato o PSL. Os protestos da campanha #EleNão que prometem tomar os principais centros urbanos do país neste sábado (29), congregando gente de diversos espectros ideológicos e partidários em torno do rechaço ao extremista. Somando-se ao fato de que, no Nordeste brasileiro, onde todos os atuais governadores do PT, PCdoB e PSB lideram as pesquisas de intenção de voto, ainda há espaço para o crescimento de Haddad, já que quase 40% do eleitorado ainda não o associaram ao ex-presidente Lula.

Porém, o jornalista Glenn Greenwald nos lembra bem, nos EUA houve um #EleNão contra Trump e ele se elegeu. Dizem as pesquisas aqui no Brasil que os índices de abstençã permanecerão na média de 30% do eleitorado, em um pleito que será definido por números muito apertados.

Em um país onde as classes pobres estão acostumadas com a violência eleitoral, com a pressão de oligarquias locais, com a compra de votos e com o descumprimento de promessas, será preciso convencer as pessoas de que estão em jogo questões que dizem respeito ao seu dia a dia. Será preciso dizer que há, sim, uma ameaça ao 13º salário.

O voto da identificação partidária e ideológica, chamado pelos cientistas políticos como “voto de arrancada”, aquele garantido, independente do que esteja acontecendo na competição, parece ser o teto de Bolsanaro e o piso de Haddad. O trabalho para o candidato do PT será enorme, à medida em que deve convencer o mais fiel eleitor de Lula a votar em favor de sua classe social e convencer indecisos e desiludidos a ter, novamente, esperança.

 

Jonatas Campos é jornalista, ex-repórter de jornais locais, da revista Caros Amigos e ex-correspondente na Venezuela pelo Opera Mundi e Brasil de Fato.

 

Edição: Cecília Figueiredo