Rio de Janeiro

INVESTIGAÇÃO

ONU promete pressionar governo brasileiro para solucionar caso Marielle

Em reunião na sede das Nações Unidas, viúva da vereadora diz que autoridades brasileiras estão com mãos sujas de sangue

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Monica Benício, viúva de Marielle Franco, participou de reunião na ONU, em Genebra
Monica Benício, viúva de Marielle Franco, participou de reunião na ONU, em Genebra - Divulgação/Observatório da Intervenção

A Organização das Nações Unidas (ONU) vai pressionar para que o governo federal do Brasil apresente novidades na investigação da morte da vereadora Marielle Franco (Psol). Na última terça-feira (18), a viúva de Marielle, Monica Benício, e diversas Organizações não-governamentais estiveram em Genebra, na Suíça, para denunciar a falta de solução para o caso. 

Na reunião com a Alta Comissária Adjunta da ONU para os Direitos Humanos, Kate Gilmore, e outros membros da ONU, estiveram presentes a Redes da Maré, o Observatório da Intervenção, a Anistia Internacional, Conectas Direitos Humanos, além de Monica Benício. O grupo denunciou violações no contexto da militarização da segurança pública, o aumento de homicídios provocados pela polícia e a falta de respostas sobre o assassinato de Marielle. 

“Denunciei o descaso do governo brasileiro na ausência de justiça frente à execução política de Marielle. Também solicitei apoio internacional, para uma investigação imparcial, e sigo afirmando que as autoridades brasileiras estarão com as mãos sujas de sangue até que respondam quem matou e quem mandou matar minha companheira Marielle Franco”, disse a viúva da vereadora. 

Nesta quinta-feira (20), as organizações realizaram um evento paralelo à 39ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU. O debate “Militarização da segurança pública: intervenção federal no Rio de Janeiro, execuções extrajudiciais e riscos para defensores de direitos humanos” acontece em uma das salas da ONU, em Genebra.  

Ministro Jungmann não cumpriu promessas sobre o caso 

Quando o assassinato da vereadora do Psol completar sete meses, o Brasil estará no meio de um conturbado processo eleitoral, onde um candidato progressista se apresenta como alternativa a outro que prega o autoritarismo e o armamento da população. É neste cenário que o governo de Michel Temer, já perto do fim, afirma que dará solução ao crime contra a parlamentar do Rio. 

Mas as declarações sobre a resolução do caso e os nomes de quem matou e quem mandou matar Marielle e o motorista Anderson Gomes vão se perdendo nas repetidas promessas do ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann. Nas últimas semanas, o ministro vinha garantindo que as respostas sobre a execução estavam prestes a serem elucidadas. Nos seis meses de morte, porém, o governo não se manifestou. 

Em artigo recente publicado na revista estadunidense “Time”, a mãe de Marielle, a advogada Marinete da Silva, lembrou seus esforços para que autoridades internacionais cobrem do Brasil a resolução do caso. Marinete, que já esteve com o Papa Francisco, ressaltou que “a cada mês cobramos das diferentes autoridades responsáveis pela investigação”. 

A Anistia Internacional pede a presença de órgãos independentes que possam fiscalizar o andamento das investigações. Recentemente, a organização obteve do Ministério Público do Estado do Rio (MPRJ) a concessão para incluir na investigação o Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). No entanto, para a diretora executiva da Anistia Internacional Brasil, Jurema Werneck, são necessárias mais ações nesse sentido. 

“O Ministério Público tem papel fundamental para garantir a competência e independência na apuração do caso. A entrada do Gaeco é bem-vinda, mas é preciso envolver também o Gaesp (Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública) na investigação e monitorar a atuação da Polícia Civil. Além disso, é urgente a constituição de um grupo totalmente independente do Estado para o monitoramento das investigações, que verifique se o devido processo legal está sendo seguido” afirma Werneck.

Edição: Mariana Pitasse