Apontados pela última pesquisa Ibope como principais candidatos ao governo de São Paulo neste momento da disputa, Paulo Skaf (MDB) e João Doria (PSDB) não apresentam em suas propostas nada específico para o ensino superior.
Nos planos de governo, os candidatos apenas apresentam propostas gerais para a educação ou voltadas ao ensino básico e médio, apesar de o governo estadual de São Paulo administrar as duas das melhores universidades da América Latina, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Universidade de São Paulo (USP).
Ana Luíza Matos de Oliveira, doutoranda no Instituto de Economia da Unicamp e integrante do Brasil Debate, avalia como preocupante a ausência de projetos para as universidades estaduais.
“Entendo que eles não colocaram propostas porque as propostas que têm são impopulares. No campo do partido tucano, do Dória, vários políticos já propuseram o pagamento de taxas para acesso à educação superior. A universidade deixaria de ser pública e passaria a ser paga de acordo com a renda dos estudantes”, ressalta.
O terceiro candidato apontado pela última pesquisa Ibope, Marcio França (PSB), traz propostas específicas para o ensino superior. França propõem a ampliação do número de vagas e também o acesso ao ensino superior à distância. O candidato do PSB ao governo de São Paulo propõe o estímulo e expansão do ensino técnico, ponto que também aparece nos planos de Dória e Skaf.
O ex-presidente da Associação dos Docentes da USP (Adusp) e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Otaviano Helene, defende o aumento do ensino técnico com qualidade, mas avalia que não é isto o que os candidatos estão propondo. “Eles escrevem coisas mais para vitrine. Falam de ensino técnico, tecnológico, moderno, modernidade, usam muito essas palavras, mas na prática não tem nenhum conteúdo”, avalia.
“Os três candidatos que estão a frente nas pesquisas – Doria, Skaf e França – têm uma visão muito próxima de quase igualar educação com qualificação, como se educação fosse somente educação voltada para o mercado. É problemático ter nas propostas essa ideia de que o necessário é investir na educação técnica e ter esse desleixo com a educação superior", aponta a doutoranda da Unicamp.
Outra perspectiva
Luiz Marinho (PT) é um dos poucos entre os 12 candidatos que apresenta no plano de governo propostas específicas para as universidades estaduais. Marinho defende eleições diretas na escolha dos reitores das universidades estaduais, aprofundamento do programa Ciências sem Fronteiras e da política de cotas, além de um plano de permanência estudantil para garantir que os alunos tenham condições de concluir o curso.
A candidata pelo PSOL Lisete Arelaro, conhecida como Professora Lisete por sua atuação na Faculdade de Educação da USP, tem como principal bandeira mudar São Paulo a partir de “uma revolução na educação do Estado – da creche à universidade”.
Além do aumento no número de vagas nas universidades, a candidata defende que as universidades estaduais paulistas recebam 11,5% da arrecadação do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Hoje esse percentual corresponde a 9,57%. Lisete também destina metade das vagas do ensino superior estadual para alunos de escolas públicas. Ela também defende reservar vagas para estudantes negros, pardos e indígenas de acordo com a proporção dessas populações apontada no último censo do IBGE.
Marcelo Candido (PDT) defende a ampliação do acesso à universidade e de políticas de assistência estudantil, como moradia e bolsa de permanência. Candido também defende investimentos em pesquisa e extensão para incentivar o desenvolvimento científico.
Herança tucana
O PSDB, partido que governa há mais de 20 anos o estado de São Paulo, é fortemente criticado nos planos de governo de Marinho e Lisete. Marinho afirma que "trará de volta ao sistema de ensino os 298 mil jovens excluídos da escola" durante o governo tucano e Lisete critica as "falsas soluções de universidades virtuais que só demonstram o imenso despreparo destes governos para enfrentar os desafios de uma educação democrática e transformadora".
O professor Otaviano Helene aponta que, apesar das universidades federais também sofrerem com a atual crise econômica, há uma diferença na comparação das universidades estaduais paulistas. “Na década entre 2005 e 2015, as instituições federais cresceram muito em número de alunos, de instituições e de professores. A expansão foi muito significativa".
"No mesmo período, a política no estado de São Paulo, apesar das condições de crescimento serem muito favoráveis em lugar de aproveitar a oportunidade para fazer uma expansão do ensino público superior de qualidade e gratuito, fez ao contrário: trabalhou para reduzir o ensino público. Não faz sentido algum”, opina.
A doutorando da Unicamp Ana Luiza Oliveira, ressalta que a universidade tem sofrido com cortes no orçamento que impacta as condições de trabalho de professores e funcionários, mas também de permanência dos estudantes. “Passamos por um processo nos últimos anos de inclusão social, de entrada de alunos de famílias de renda mais baixa na universidade, no entanto, a estrutura que servia para acolher esses estudantes e garantir que eles permaneçam na universidade precisa ser expandida também”, critica.
Edição: Diego Sartorato