O número de greves registrado em 2017 caiu 25% em relação ao ano anterior. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), 2016 teve 2093 paralisações – um recorde na história do país. No ano passado, foram 1566.
Segundo Rodrigo Linhares, técnico do Dieese responsável pelo sistema de acompanhamento de greves, a queda nas estatísticas não pode ser ainda interpretada como uma tendência para os próximos anos.
“Desde 2013, há um patamar de cerca de 2000 greves anualmente. Agora, em 2017, vem essa queda para cerca de 1500 greves. Até agora, há mais de 1100 greves cadastradas. A gente não sabe se isso é uma tendência. Muito provavelmente, a principal variável é o desemprego. Na esfera privada, o aumento dos números de desempregados funciona como desestimulante”, analisa.
Secretário-geral da Central Única dos Trabalhadores do Distrito Federal (CUT-DF), Rodrigo Rodrigues ressalta que as alterações no mundo do trabalho promovidas após o golpe contra Dilma Rousseff (PT) contribuiu para a queda.
“De um lado, você tem a ameaça do desemprego crescente, que coloca os trabalhadores sob pressão. Do outro lado, há a própria reforma trabalhista que contribuiu para isso. Em um cenário de encolhimento do emprego e de retirada de direitos, as pessoas estão mais preocupadas em manter emprego do que avançar em suas conquistas”, afirma.
A própria legitimidade dos sindicatos enquanto entidades representativas e coletivas, lembra Rodrigues, foi atacada pela reforma trabalhista, ao valorizar a negociação individual entre empregado e patrão.
Linhares, de outro lado, aponta que a retirada de direitos podem levar a um cenário de aumento de paralisações.
“Pensando em no cenário de flexibilização e precarização, pode ser que alguns tipos de greve comecem a aumentar. Greve em serviços de limpeza e vigilância, por exemplo. É possível que esse tipo de greve – do impasse total – possa aumentar. É aquela greve que a empresa não paga salários a meses. Para o trabalhador, a decisão pela greve é indiferente ao desemprego [nessa situação]”, pondera.
Em 2017, o maior número de greves no âmbito privado foi registrado justamente no setor de serviços. No setor público, as paralisações mais recorrentes foram de professores municipais, em luta por salários estipulados pelo piso nacional do magistério, e profissionais da saúde.
Uma a cada quatro greves tiveram caráter defensivo, ou seja, pela manutenção ou implementação de direitos conquistados. Quatro anos antes, apenas 20% tinham esse caráter, o que dá a entender que estavam em pauta avanços nas condições de trabalho e remuneração.
Edição: Daniel Giovanaz