As eleições de 2018 contam com uma cifra histórica. Em todo o país foram registradas 53 candidaturas de pessoas trans. Em 2014 o número foi de apenas 5, conforme levantamento da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).
“Esse aumento tem a ver primeiro com a mobilização das organizações sociais. A gente tem feito um movimento para intensificar essas organizações nos estados e nos municípios”, comentou Symmy Larrat, presidenta da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT) em entrevista à Rádio Brasil de Fato.
Um segundo motivo que explica o aumento da presença de pessoas trans nas eleições, segundo Symmy, é “o entendimento que a população LGBT tem de que o legislativo, em todas as esferas, municipal, estadual e federal, não nos contempla”. “O legislativo sempre foi um espaço de empresários, de latifundiários e tem sido tomado nos últimos anos por uma onda conservadora liderada por oportunistas religiosos, que usam a sua dita fé para promover o ódio e a exclusão”, completou a militante.
Symmy, oriunda de Belém do Pará, foi coordenadora-geral de Promoção dos Direitos LGBT da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República no governo de Dilma Rousseff. Coordenou o programa Transcidadania, na gestão Fernando Haddad, e faz parte atualmente da direção da secretaria nacional LGBT do Partido dos Trabalhadores (PT).
Em março deste ano, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou o uso do nome social na urna para candidatas trans. Symmy afirma que a medida “não nos ajudou em quase nada”. “O pragmatismo eleitoral, faz com que nós não sejamos candidaturas prioritárias. Há uma invisibilidade [das candidaturas trans] porque os cadastros do IBGE, do TSE, de todo o sistema público, não leva em consideração marcadores como a orientação sexual e a identidade de gênero, o que dificulta enxergar a totalidade dessa população que concorre”, explica.
Em relação às mudanças que a eleição de candidatas da população LGBT pode gerar, Symmy, destacou que significaria conquistar um nível mínimo de representatividade: “talvez não no número que gostaríamos, mas vamos ter vozes fazendo a nossa defesa por nós mesmas, sem precisar que só outras pessoas falem por nós”.
A situação atual, segundo a militante, é um dos elementos pelos quais o país pode ser considerado dos mais conservadores da região: “Nós atingimos nossas conquistas sempre através da judicialização. O legislativo brasileiro é extremamente conservador. O Brasil não tem uma legislação que fale sobre a identidade de gênero ou pró LGBT. E na América Latina nós temos 11 países que têm legislação”.
Confira a entrevista na íntegra no áudio acima.
Edição: Mauro Ramos