Enquanto o Corpo de Bombeiros tentava apagar as chamas do Museu Nacional, na noite do último domingo (3), pesquisadores da instituição bicentenária puderam ter acesso pelos fundos às dependências do edifício da Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão. Com mais de 20 milhões de peças que concentram a história da humanidade em séculos, pouca coisa se salvou.
Mas o trabalho de resgate das peças só foi possível graças ao esforço de mais de 30 servidores e voluntários que entraram no Museu e arrombaram portas de gabinetes para salvar o que conseguissem. Entre as várias entradas e saídas do prédio em chamas estava o biólogo Paulo Buckup, que pesquisava há 22 anos na instituição e conseguiu recuperar parte da coleção de moluscos da fauna da América do Sul.
“Eu pensei que eu podia morrer, mas [o museu] era a minha vida e a vida dos meus colegas. Aqui 'morreram as vidas' de muitos colegas. Vi funcionários aposentados que vieram aqui transtornados porque não só a vida de nossos ancestrais em pesquisa foi perdida, mas a vida inteira deles foi perdida. Muitos cientistas e técnicos entraram no Museu Nacional quando eram jovens e ficaram a vida inteira”, lamentou.
“São grandes heróis. Tínhamos gente aqui desde a reitoria da UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro] até funcionários aposentados que assumiram grandes riscos”, conta Buckup, que também viu voluntários e parentes de servidores. “Não faltaram braços para carregar o material para longe do fogo, o que faltou foi condição de entrar mais para dentro do prédio”.
A Defesa Civil, os Bombeiros e o Museu Nacional ainda não haviam anunciado o que pode ser resgatado durante e após o incêndio. Mas alguns pesquisadores informaram que objetos como o crânio de Luzia, a mulher mais antiga das Américas, e boa parte dos esqueletos de dinossauros encontrados em fósseis no Brasil estavam guardados em compartimentos mais resistentes.
Crivella é criticado após defender reconstrução do museu incendiado
Horas depois do incêndio que destruiu o acervo de séculos de História Universal do Museu Nacional, o Prefeito do Rio, Marcelo Crivella, fez uma declaração contraditória nas redes sociais e gerou, além de revolta e indignação, alvo de piadas. Segundo Crivella, o dever nacional seria reconstruir “cada detalhe eternizado em pinturas e fotos, ainda que não seja original”.
Muitos internautas, incluindo professores e pesquisadores, criticaram o prefeito da capital e disseram que ele sequer tinha conhecimento do tipo de acervo que o Museu Nacional abrigava. O prefeito falou de obras de arte em um museu que guardava itens da história da humanidade, apontaram os críticos a Crivella.
Depois da repercussão negativa, o prefeito teve que voltar à sua conta nas redes sociais para tentar esclarecer. Crivella disse que não se referia à reconstituição de material incinerado dentro do Museu Nacional, mas à fachada e ao prédio de 200 anos da Quinta da Boa Vista. Segundo ele, o trecho de sua primeira declaração “pode ter sido interpretado equivocadamente por alguns”.
Você sabia?
O Museu Nacional é a mais antiga instituição histórica do país. O local foi fundado por dom João VI, em 1818. A instituição é vinculada à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com perfil acadêmico e científico. Tem nota elevada nos institutos por reunir pesquisas diferenciadas, como esqueletos de animais pré-históricos e livros raros.
Com Agência Brasil
Edição: Mariana Pitasse