Preso desde julho de 2017 na Argentina, o líder mapuche Facundo Jones Huala corre o risco de ser extraditado para o Chile. No dia 23 de agosto, a Suprema Corte de Justiça de Argentina aprovou a extradição que vem sido combatida internamente pelos movimentos de direitos humanos e internacionalmente.
O jovem é liderança ativista e espiritual dos mapuches e luta pela libertação do território de Huala, local ancestral Mapuche localizado entre as fronteiras de Chile e Argentina. Na última quarta-feira, 5 de setembro, as Nações Unidas se pronunciou contra a extradição do líder, estabelecida pela corte argentina.
Em coletiva de imprensa cedida nesta quinta-feira, dia 6 de setembro, Isabel Huala, mãe do jovem, afirmou que há "terrorismo de Estado" em curso. Para ela, que veio ao Brasil participar do Encontro de Mulheres Indígenas em São Paulo, há muitas semelhanças no modo como os estados lidam com os povos tradicionais.
"É necessário poder nos reunir e ver que isso é uma plano sistemático de um terrorismo de Estado que não apenas acontece na Argentina, mas na América Latina quando se tiram as terras dos povos originários e não nos permitem nos desenvolver dentro da cultura e cosmovisão de cada povo", disse.
O povo Mapuche é visto como "barreira" contra o avanço das cadeias do extrativismo e entrada de multinacionais no território. É o caso da Benetton, que ocupa um território mapuche com cerca de 900 mil hectares.
"Meu filho é um prisioneiro político mapuche do Estado argentino e Estado chileno, por defender os territórios e acompanhar as nossas lutas e hoje querem extraditá-lo ao Chile. Há muitos outros mapuches como ele, presos políticos na Argentina e no Chile", afirma.
Além de Facundo, outro filho de Isabel, Fausto Joanes Huala, também está na clandestinidade por conta de uma ordem de prisão expedida depois que ele se colocou contra o despejo do povo mapuche. Fausto não se sente seguro para se entregar pela maneira truculenta que age o Estado argentino, segundo Isabel.
Isabel conta que tem recebido apoio das mídias comunitárias e ativistas de direitos humanos não só na América Latina como na Europa. Em seu território, afirma não receber apoio de partidos políticos.
"Se tem negado apoio aos povos originários há mais de 500 anos. Fizeram um genocídio em toda a América Latina. Os governos se criaram em cima do povos originários, então não podemos esperar apoio de partidos ou mídias hegemônicas que são parte do estado apoiem os povos originários porque seria reconhecer o genocídio que cometeram".
Segundo ela, o atual presidente, Maurício Macri, está apenas dando continuidade ao processo de genocídio que se iniciou no século 19. Entre 1879 e 1884, a Argentina fez uma operação chamada de Conquista do Deserto, que visava levar "progresso" ao território mapuche.
Huala lembra o que aconteceu com o jovem Santiago Maldonado, também vítima desse processo de violência contra os mapuches. "Santiago Maldonado ficou desaparecido e foi encontrado morto no rio porque estava pedindo a liberdade de Fagundo e Fausto Jones Huala e outros oitos detidos em Bariloche".
Por fim, Izabel pediu para que as lideranças religiosas dos povos tradicionais da América Latina fossem respeitadas, a exemplo do líder guarani-kaiowá Ambrósio Alcebíades, pagé que aos 82 anos ficou detido por cerca de 10 dias no Brasil.
As mulheres indígenas que construíram o Encontro das Mulheres Indígenas divulgaram uma moção de repúdio à decisão de extradição de Facundo.
Edição: Diego Sartorato