Geralmente pouco valorizados pelo público, os museus brasileiros fazem "ginástica" para garantir políticas de orçamento, visitação e preservação da memória histórica. É o que afirma a diretora do Departamento de Difusão, Fomento e Economia do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), Eneida Braga Rocha.
Diante da tradição de pouca valorização desses equipamentos e em meio a um contexto de ajuste fiscal, as instituições enfrentam dificuldade para conseguir parceiros que ajudem a financiar projetos e editais.
De acordo com a dirigente, os museus contam, muitas vezes, com a ajuda de empresas estatais, como a Petrobras, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Caixa Econômica Federal, tradicionais parceiras de programas que apoiam o patrimônio histórico. Mas a batalha por apoio e orçamento é uma tradição.
“Os recursos nunca são suficientes, historicamente. Mesmo em períodos de crescimento e avanço econômicos do país, eles nunca chegaram da forma como nós necessitávamos. É uma luta constante nossa pra sermos equilibristas”, afirma.
Ao todo, o Brasil possui mais de 3.700 museus, sendo 65% deles públicos, entre os quais 456 são federais. O Ibram gerencia 30 destes e também desenvolve ações que alcançam os outros equipamentos existentes no país.
Em 2016, o Instituto executou um orçamento de cerca de R$ 85,5 milhões e, em 2017, o valor caiu para R$ 78,9 milhões. Entre outras coisas, foi preciso fazer remanejamento interno de verbas.
Mesmo diante das dificuldades, os gestores tentam articular projetos que incentivem, por exemplo, a visitação aos equipamentos, uma riqueza ainda pouco explorada pelo público.
Não se sabe ao certo o número exato de pessoas que visitam os museus do país, mas o Formulário de Visitação Anual (FVA), aplicado por parte deles, ajuda a dimensionar a quantidade.
Em 2017, segundo o Ibram, 1.001 museus que contabilizaram público receberam 32,2 milhões visitantes. Para se ter uma ideia, no mesmo período, somente o Louvre, museu de maior referência na França, registrou 8,1 milhões de visitas, cerca de 25% do total de registros no Brasil.
Três exposições brasileiras estiveram entre as mais visitadas do mundo em 2017, segundo a publicação inglesa The Arte Newspaper. No entanto, gestores de museus e outros atores ainda se equilibram entre o orçamento enxuto e a criatividade na administração dos equipamentos para garantir a manutenção deles e atrair o público.
Eneida Braga Rocha destaca a realização, duas vezes ao ano, de eventos de alcance nacional que mobilizam os diferentes equipamentos. Um deles ocorre em maio e comemora a Semana Nacional de Museus; o outro, chamado de “Primavera de Museus”, é realizado neste mês.
De acordo com a dirigente, nos dois períodos, o número de visitantes aumenta cerca de 80%. A proposta é divulgar os diferentes museus do país, que guardam características as mais distintas.
Os equipamentos variam desde espaços que registram a história do Brasil até museus científicos e comunitários, distribuídos em todas as regiões.
“É justamente pra chamar a atenção do cidadão pra conhecer o museu da sua região porque o brasileiro, normalmente, vai pra fora do país visitar os museus, mas não tem o costume de visitar os seus próprios, que às vezes estão no seu bairro, na sua cidade", afirma.
Consciência crítica
De modo geral, os museus servem tanto como espaços de fonte de pesquisa quanto como locais de referência para a educação patrimonial, com recebimento constante de visitas de estudantes e outros grupos.
Carla Vieira, mestra em História Social pela PUC-SP, destaca que os acervos também são fundamentais para a produção de novas e diferentes interpretações sobre a memória histórica.
“Eles trazem consigo uma história que ainda está em construção. Criar e recriar histórias e memórias a partir desses objetos é fundamental pra que a gente mantenha uma consciência crítica sobre a nossa própria história, sobre a nossa identidade”, complementa.
Nesse sentido, a contribuição dos museus também é algo que se projeta no tempo que ainda está por vir. É o que destaca a coordenadora do Programa de História Oral do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), da FGV, Vivian Fonseca.
“O museu traz a materialidade das construções, dessas narrativas históricas de quem nós somos, de quem nós fomos e de quais projetos de futuro a gente vai construir, de quais projetos de civilização a gente vai construir pro Brasil”, afirma.
A lista completa de equipamentos existentes no país consta num cadastro nacional que pode ser visualizado em detalhes no link http://museus.cultura.gov.br/
Edição: Diego Sartorato