No início do ano, em 16 de fevereiro, foi anunciada a intervenção federal no Rio de Janeiro. Em outras palavras, o governador Pezão entregava o comando da segurança pública do estado para o Exército. Na época, diversos pesquisadores, estudiosos como Julita Lemgruber, Luiz Eduardo Soares e Michel Misse alertaram que a intervenção não era uma política pública e se assemelhava mais a uma jogada publicitária. O governo havia terminado o ano de 2017 completamente desgastado com a crise fiscal. E, por isso, precisava de uma ação de marketing que pudesse desviar a atenção de seu desgaste e a estratégia foi “tomar uma atitude enérgica na segurança pública”. Mas essa era apenas uma das operações políticas do MDB.
Outra seria neutralizar a luta e a resistência dos servidores do estado, que estava desgastando cada vez mais o governo com toda a sociedade. A solidariedade da população fluminense com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), por exemplo, não parava de crescer, o movimento #UerjResiste extrapolou os muros da universidade e se tornou símbolo de um movimento da sociedade em defesa da educação pública. Sem receber seus salários, os servidores passaram 2017 e o primeiro semestre de 2018 nas ruas, cada vez mais mobilizados, fazendo crescer o degaste do MDB. E o governo respondia com mais e mais truculência. As manifestações dos servidores na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) passaram a ser tratadas com bombas de gás lacrimogênio e tiros de bala de borracha.
Entretanto, esse modo de agir tinha um limite claro: as eleições no segundo semestre. Depois de aprovar na Alerj uma série de medidas de austeridade contra os trabalhadores — como o congelamento de salários, o aumento da contribuição previdenciária e o início do processo de privatização da Cedae —, precisava-se garantir alguma regularidade no calendário de pagamentos para o período eleitoral.
Assim foi feito. A partir do segundo semestre os servidores começaram a receber seus salários e estamos a um pouco mais de 30 dias das eleições. O governo Pezão, do MDB de Cabral, saiu das manchetes dos jornais. A segurança está sob o comando dos militares, os salários estão sendo pagos com alguma regularidade e, enquanto isso, um estelionato eleitoral está sendo organizado nas candidaturas que sempre estiveram ligadas ao MDB fluminense.
É uma catástrofe anunciada. A intervenção acaba no final do ano e o Governo do Estado já anunciou que só tem em caixa o suficiente para pagar os salários até outubro. Depois das eleições, o Rio de Janeiro terá que voltar a encarar a sua triste realidade. E, pior, podemos continuar nas mãos do MDB. Precisamos derrotá-lo nas urnas, para termos alguma esperança num futuro melhor. Parece impossível. Mas, se depender dos Cabrais, tudo pode piorar.
*Guilherme Vargues é professor da Faculdade de Educação da UERJ e está presidente da Asduerj.
Edição: Brasil de Fato RJ