Pela primeira vez na história da democracia brasileira, o candidato com maiores chances de chegar à Presidência da República nas eleições gerais não figura na pauta dos meios de comunicação tradicionais do país. Embora o candidato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, esteja preso em Curitiba desde o dia 7 de abril, o Partido dos Trabalhadores (PT) tem feito campanha através do candidato a vice na chapa, o ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.
No dia 27 de agosto, a defesa do ex-presidente Lula protocolou uma representação junto ao Tribunal Superior Eleitoral, com o objetivo de garantir que as emissoras de televisão concedam o mesmo espaço e tratamento que têm dedicado aos outros candidatos ao candidato do PT. Desde o dia 20 de agosto, o Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão, tem divulgado diariamente as agendas das campanhas presidenciais, exceto a campanha petista.
Para o jornalista e professor Laurindo Lalo Leal, a mídia tradicional busca argumentos para justificar o que para ele, é uma prática dos regimes de exceção e das ditaduras.
“Isso, do meu ponto de vista, é censura, principalmente quando se fala de rádio e televisão. Rádio e televisão são concessões públicas. A Constituição diz claramente que elas são concessões para a prestação de um serviço público. São concessões do Estado, ou seja, elas não podem, legalmente, fazer campanha política, nem político-eleitoral. E no caso de não permitirem o Lula no vídeo, elas estão fazendo campanha político-eleitoral, porque elas dão destaque aos outros candidatos, contrários ao Lula. É uma situação que na verdade se inclui em toda a estratégia do golpe e chega até hoje. É o Brasil vivendo um estado de exceção”.
Eliara Santana, jornalista e pesquisadora associada do Machetômetro, um site de acompanhamento de cobertura da mídia corporativa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ), afirma que não se surpreende com o posicionamento da chamada ‘mídia corporativa’.
“Eu acho que esse é um posicionamento muito coerente com o papel que a mídia corporativa assumiu como grande legitimadora do golpe que tirou Dilma Rousseff da Presidência. E acho que é um recado claro para as forças populares: - olha, nós não vamos facilitar a vida de vocês, nós temos um lado, é um lado muito claro, e estamos na disputa pelo poder, por isso, vamos usar todos os recursos que temos”.
Segundo dados do Machetômetro, entre janeiro e agosto de 2018, os únicos candidatos presidenciais que tiveram mais notícias de conteúdo negativo do que os considerados “neutros”, foram Lula e Jair Bolsonaro, sendo que a proporção de matérias neutras do candidato da extrema direita é ainda maior do que o candidato petista. Santana afirma que, através do estudo, é possível identificar o candidato que melhor representa os interesses da grande mídia.
“É uma tendência aberta, muito clara, a um posicionamento contra o PT, contra Lula, contra os movimentos populares, e a favor de um conjunto de forças que sempre dominaram a cena política, o espaço econômico no país. Por hora, eu arrisco dizer que o candidato da mídia corporativa é Geraldo Alckmin. Apenas por hora, precisamos aguardar as próximas cenas, os próximos capítulos para saber como esse jogo vai se dar e como a mídia corporativa vai se posicionar”.
Mas para Lalo, a mídia não contava com a força popular do ex-presidente que foi o mais bem avaliado entre os governantes brasileiros ao deixar o governo.
“A mídia esperava que com a invisibilidade do Lula, o PT praticamente desaparecesse, e as candidaturas seriam somente essas mesmas que eles estão exibindo agora nesses programas de entrevista e debates. Mas é a grande surpresa. Eles não esperavam que houvesse toda essa resistência da candidatura do Lula que, apesar de tudo isso, tem sido a de maior preferência da sociedade, como mostram todas as pesquisas de opinião”.
Nesta sexta-feira (31), o Tribunal Superior Eleitoral deve tomar decisões sobre a participação do ex-presidente Lula na campanha presidencial.
Edição: Juca Guimarães