Apesar de todas as tentativas de desmonte da saúde pública do Brasil pelo governo de Michel Temer, o Sistema Único de Saúde (SUS) é internacionalmente reconhecido como uma das propostas mais bem-sucedidas na área. No Rio de Janeiro, ele se divide entre os atendimentos primário, secundário e terciário, além de contar com laboratórios, centros de pesquisa e fabricação de medicamentos.
Em entrevista ao Brasil de Fato, o diretor do Sindicato dos Médicos do Rio e conselheiro municipal de saúde, Alexandre Telles, lembrou que a Emenda Constitucional 95/2016 do governo federal, mais conhecida como a PEC do Teto de Gastos, que congela investimentos públicos em saúde e educação pelos próximos 20 anos, é uma das principais ameaças à continuação do SUS.
“Nós temos um sistema de cobertura universal, que é um direito de cidadania de toda a população brasileira e que cobre a todos. Ele é diferente daquele modelo médico-previdenciário de antes da Constituição de 1988, o Inamps. Mas o SUS hoje sofre de um sub-financiamento crônico”, critica o representante dos médicos no Rio.
Segundo Telles, a falta de investimentos na saúde pública será agravada nos próximos anos “porque vivemos uma transição, com aumento de doenças crônicas que demandam mais gastos e com a população envelhecendo. E com a mesma verba na saúde e sem ganho real”, completa o presidente do sindicato.
Desmonte
Moradora de Parada de Lucas, na zona norte do Rio, agente de saúde e usuária do SUS, Josinete Nascimento alerta que a volta de doenças como a meningite já é um sinal do desmonte da saúde pública. Ela faz um apelo para que a população apoie a luta dos agentes de seus bairros e se mobilize, sobretudo agora no período eleitoral, para cobrar dos candidatos a governador e presidente propostas de continuidade do atendimento.
“A população tem que estar junta com os agentes. Quando a gente vai para as ruas, a gente pede para que não acabe o SUS. Quando a população chega na Clínica da Família e não tem o médico, a primeira pessoa que ela vai atacar é o agente, mas por trás de nós tem um vereador, um deputado, um governador, um presidente da República. Quando a gente chama para a rua, é no interesse de que o SUS não acabe. Por isso, a população precisa chegar junto também”, afirma Josinete, que tem dois filhos e marido, todos pacientes da rede pública.
Uma das principais qualidades do SUS, a atenção primária, que consegue resolver nos centros municipais de saúde e nas clínicas da família entre 80% e 90% dos problemas dos pacientes, pode ter um final trágico. Alexandre Telles lembra que nos Estados Unidos, onde não existe saúde pública e todos pagam plano de saúde, o cidadão pode chegar com um corte na mão e “sair do hospital com uma dívida altíssima”.
“Com o fim do SUS, todos esses serviços, como as clínicas de família, os hospitais, as redes de farmácia, deixam de existir. A atenção primária acaba também e a gente volta para aquela lógica antiga, de que saúde é mercadoria e pode ser comercializada. O SUS rompe com essa lógica. Perdendo ele, a pessoa terá que ter plano de saúde ou pagar consultas de maneira privada, o que é muito prejudicial”, avalia o médico.
Você sabia?
Com modelo similar ao funcionamento da saúde pública do Reino Unido, que também é pública e universal, o SUS tem gasto cinco vezes menor por pessoa que o do país europeu. Enquanto o governo britânico investe aproximadamente $2.766 per capita, no Brasil esse custo por pessoa não chega aos $600 .
Edição: Mariana Pitasse