O Brasil de Fato Paraíba entrevistou o padre e Deputado Federal Luiz Couto (PT-PB). Entre os temas, estão a corrupção, o sistema político e a prisão de Lula. Filho de agricultores, Luiz Couto nasceu em Soledade em 1945. Foi eleito a primeira vez em 1995 para deputado estadual, sendo reeleito. Antes de ser deputado estadual, foi professor da UFPB. Atualmente, está no seu quarto mandato na Câmera Federal. Este ano, concorre ao Senado.
BDF - Na sua opinião, as eleições desse ano acontecem em que tipo de cenário político?
Luiz Couto - Nós vivemos em um estado de exceção alimentado e fortalecido pelo mercado financeiro, do petróleo internacional, e pelos golpistas, que continuam realizando novos golpes contra a democracia, contra o estado democrático de direito. O nosso pré-sal deveria ser perfurado pela Petrobras para a saúde, para a educação, para um fundo de combate à pobreza e miséria, para enfrentar a violência em nosso país. Hoje, vai ser entregue para essas empresas que vêm aqui só para tirar dinheiro. São mais de um trilhão de reais que deixam de ser aplicados na saúde e na educação. Durante 30 anos, eles vão ser anistiados de qualquer imposto e quem vai sofrer são os municípios e os estados. Mas é preciso ter esperança; Dom Helder nos diz: "é preciso ter a ousadia esperança".
BDF - Qual sua maior crítica ao sistema político brasileiro?
Luiz Couto - Todos os cientistas políticos avaliam que o sistema político brasileiro está corrompido e as tentativas de se fazer reforma política se tornam remendo eleitoral. Por quê? Porque uma profunda reforma política só acontecerá se houver uma constituinte exclusiva, precedida de um plebiscito. Um plebiscito onde a população diga o que é que ela quer e os constituintes sejam eleitos só para realizar as mudanças do sistema político, e que depois ainda haja um referendo para que a população possa dizer se aquela constituição representa aquilo que foi colocado no plebiscito. Infelizmente, isso não acontece. E a gente fica “brincando” de fazer reforma política, quando o que acontece são remendos eleitorais.
BDF - O senhor é um dos únicos deputados federais da Paraíba que não tem seu nome envolvido em denúncias de corrupção. Por que atos corruptos são tão presentes na política brasileira?
Luiz Couto - São três coisas que estão intimamente associadas: a violência, a corrupção e a impunidade. São as três chagas do nosso país que têm que ser enfrentadas em conjunto, embora a Rede Globo diga que o problema do nosso país é a corrupção. Mas de que corrupção estão falando? A gente pensa sempre logo na Lava Jato, não é só a Lava Jato. Na corrupção tem também as fraudes. Se você pega as 500 maiores empresas que devem à previdência social, devem e não pagam. A sonegação é maior do que aquilo que a Lava Jato está investigando. Agora, quem é que sonega? É o trabalhador? Não! São os grandes empresários. Eles não pagam porque sabem que depois vem a anistia e que não vai acontecer nada, porque são eles que financiam a maioria das campanhas eleitorais. Outra forma de corrupção é a lavagem de dinheiro. É o caixa 2, é o caixa 3, é o caixa 5, é o caixão todo. O pagamento da dívida é outro elemento. Temos que investigar como é que esse dinheiro está sendo pago, porque quem empresta dinheiro não quer receber o principal não, eles querem só ficar recebendo os juros e os dividendos.
BDF - Como o senhor avalia a perseguição ao candidato Lula?
Luiz Couto - Lula é um acusado sem prova, apenas por convicção. Eu acho que o objetivo deles não é só prender Lula, é deixá-lo fora, matá-lo politicamente. A honra do cidadão Lula está sendo destruída por vários segmentos. Há uma seletividade também no julgamento das ações. O candidato Lula, que aparece nas pesquisas como o grande vitorioso mesmo estando preso, não pode participar dos debates nem das articulações.
Mas Lula não é mais uma pessoa, é uma ideia, é um projeto de renovação do Brasil, que vai trazer qualidade de vida, e que já trouxe durante um tempo. É um projeto que vai cuidar dos pobres, dos oprimidos, dos esmagados e vai combater todo tipo de discriminação, de violência.
BDF - O senhor é padre. Como discutir a relação religião e política?
Luiz Couto - Uma agricultora no tempo da Ditadura foi chamada pela Polícia Federal e perguntaram: quem é que manda na senhora? Quem é o chefe da senhora? Ela disse: "Jesus Cristo. Sigo os ensinamentos dele". "E como a senhora fica fazendo terrorismo, comunismo, é subversiva?". Ela disse: "doutor, se o senhor lê o evangelho, vai ver que lá nossos problemas e luta estão no mesmo saco". Então, são esses aspectos do povo simples que está por aí lutando por um Brasil diferente e que possa cuidar do seu povo, como diz o Papa Francisco. São Tiago diz: "a fé sem a obra é morta!". Ou seja, nós queremos vivenciar a nossa fé, buscar sempre a nossa esperança e cumprir aquilo que é o fundamento da religião, que é a prática do mandamento do amor.
Edição: Paula Adissi