Sem se alimentar há 25 dias, os sete grevistas de fome que estão no Centro Cultural de Brasília receberam a visita do ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, na manhã desta sexta-feira (24).
Os militantes dos movimentos populares se voluntariaram para participar da abstenção alimentar, utilizada como instrumento político para pressionar a ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), a colocar em pauta a votação de Ações Declaratórias Constitucionais (ADCs).
As peças jurídicas pedem que o STF reveja um posicionamento, adotado em 2016, que permitiu a prisão após condenação em segunda instância. A mudança de posicionamento implicaria na libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de milhares de outros brasileiros que não tiveram amplo direito a defesa nas instâncias superiores.
Em entrevista ao Brasil de Fato, Gilberto Carvalho ressalta o significado político do protesto e afirma que os grevistas de fome conseguiram um grande feito ao fazer pressão política sobre o Supremo.
Segundo o ex-ministro, desde o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, as críticas estavam voltadas ao Legislativo e ao Executivo, sem efetivamente colocar o Judiciário no centro das reivindicações.
"Essa greve conseguiu uma coisa incrível. Nem OAB, PT ou parlamentares, haviam conseguido causar constrangimento ao Supremo. Os ministros, pessoalmente ou em dois casos por meio de seus chefes de gabinete, receberam os grevistas e ouviram deles coisas que nunca haviam sido ditas. Como por exemplo, que são funcionários públicos, estão a serviço da Justiça e que estão se omitindo. Que a Justiça é parcial. [Os ministros] Ouviram deles a necessidade de retomar a Constituição. Palavras francas, claras, ditas lá dentro do Supremo, de um jeito inédito. Nunca havíamos conseguido fazer isso”, destaca Carvalho.
Ao longo dos últimos dias, os grevistas se encontraram com os ministros Ricardo Lewandowski, Rosa Weber, e foram atendidos por representantes dos ministros Barroso e Gilmar Mendes.
No dia 14 de agosto, Cármen Lúcia recebeu um grupo que pediu para que se adiantasse a tramitação das ADCs, formado pelo prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel, por um dos integrantes da greve de fome, Frei Sérgio Görgen, pelo ator Osmar Prado e pelo dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stedile. Na ocasião, a ministra se comprometeu a receber todos os grevistas mas o acordo não foi cumprido.
Para Carvalho, também chefe de gabinete da presidência do Partido dos Trabalhadores, a greve de fome marca a história de luta dos movimentos populares no país, e tem o grande mérito de mostrar para a população a imparcialidade da Justiça. “Daqui pra frente, nada será como antes. Essa greve marca um divisor de águas na luta de classes do Brasil, da luta política. É muito importante que honremos o sacrifício dessas pessoas com uma luta radicalizada”.
Na opinião do ex-ministro, além do diálogo com a sociedade, os grevistas deixam um legado para a militância. “Eticamente, eles nos deram uma lição imensa: A radicalidade da entrega da vida. Não tem como mensurar o valor dessa ação. Eles nos ensinam que quando a causa é tão grave como essa, vale a pena nos entregar do jeito que eles se entregaram”, reforça.
Apesar do eminente risco à saúde, Jaime Amorim, Zonália Santos, Rafaela Alves, Frei Sérgio, Luiz Gonzaga, Vilmar Pacifico e Leonardo Soares continuam determinados a manter a greve de fome.
Edição: Juca Guimarães