Sem se alimentar desde o dia 31 de julho, os sete militantes de movimentos populares que estão em greve de fome em Brasília (DF) se encontram em estágio avançado de debilidade física.
Segundo a equipe médica que acompanha o grupo, na fase atual do protesto, o corpo já responde com mais força à privação de comida, levando a alterações fisiológicas, déficit de atenção e considerável perda de peso. O resultado dessa combinação de fatores é o agravamento do cansaço físico e mental.
A fadiga, no entanto, não impede o grupo de seguir em frente: é que onde sobra solidariedade, não falta alimento. Com o ritmo intenso de visitas e demonstrações de apoio por parte de diversos indivíduos, grupos e instituições, os militantes afirmam que se sentem estimulados a seguir em luta.
É o que conta, por exemplo, o grevista Vilmar Pacífico, do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), que, a cada nova visita, se sente revigorado.
“Tudo isso é uma corrente, é muito importante. A visita, pra nós, é tudo. Eu costumo dizer que é o arroz e feijão, um alimento muito forte”, considera.
Veterano na luta popular, o grevista Luiz Gonzaga da Silva, o Gegê, membro da Central de Movimentos Populares (CMP), milita desde a adolescência. Ele considera que a solidariedade é fundamental para lidar com todos os processos relacionados à luta de classes, como é o caso da greve de fome.
Gegê conta que se sente grato pelas visitas e os abraços constantes que tem recebido de outros militantes, grupos, instituições, artistas e personalidades políticas.
“Eu aprendi, desde os meus 14 anos, que, sem que nós tenhamos a solidariedade de classe para classe, não tem explicação sobre por que viver. Essa palavra sempre foi muito forte na minha sobrevivência em todos os momentos difíceis”, revela.
O médico Ronald Wollf, um dos profissionais de saúde que acompanham os grevistas diariamente, explica que a debilidade física atinge fortemente o lado emocional dos militantes, aumentando, por exemplo, a irritabilidade.
Diante disso, segundo o médico, os sentimentos positivos – como é o caso da solidariedade e da fraternidade – funcionam como motor da vida, ajudando no equilíbrio energético e, consequentemente, na manutenção no organismo.
“A emoção, o humor são um alimento pra afetividade, pro espírito, e eles têm uma repercussão muito grande sobre a matéria, sobre o corpo. Existem vários estudos que vão nessa linha”, explica.
Wollf conta que a equipe médica observa uma melhora no quadro clínico e também no comportamento dos grevistas nos dias em que a movimentação de visitantes é maior.
“A gente nota depois, ao longo do dia, que eles ficam muitos mais ativos, menos queixosos em relações às dores. Eles brincam mais, pedem pra gente contar uma piada ou eles mesmos contam uma piada pra nós”, exemplifica.
Os sete militantes recebem visitas diariamente no local onde estão alojados, no Centro Cultural de Brasília (CCB).
Edição: Diego Sartorato