Uma produção de alimentos sem o uso de agrotóxico, fertilizantes industriais e transgênicos, que respeita o meio ambiente, promove a agricultura orgânica e tem a capacidade produtiva cerca de 10% maior do que o agronegócio. Isso é possível? A resposta é sim. A técnica de manejo sustentável da terra tem se mostrado como a melhor alternativa para a biodiversidade e para a saúde da população.
No estado do Rio de Janeiro, as experiências com a agroecologia têm sido promissoras e atraído cada vez mais a atenção das pessoas que buscam uma alimentação saudável e livre de veneno. Na busca por soluções para a falta de políticas públicas que incentivem a produção agroecológica, o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) passou a investir no sistema de abastecimento popular, em que o contato entre o agricultor e o consumidor é feito de maneira direta, sem atravessador. Humberto Palmeira, conhecido como Beto, integra a coordenação nacional do MPA, ele explica que hoje é essencial pensar a distribuição dos alimentos.
“Atualmente, os dados oficiais mostram que mais de 70% dos alimentos do Brasil vem da agricultura camponesa e familiar. Esse é o dado do último censo (IBGE). Só que a distribuição desses alimentos não é feita pelos camponeses, mas pelas médias e grandes redes de supermercados. O que nós estamos debatendo é que não basta só a gente produzir, temos que nos desafiar a construir ferramentas de distribuição”, ressalta.
Apesar da dificuldade pela falta de incentivo do poder público, a rede de distribuição popular apontada por Humberto está crescendo aos poucos no estado. Hoje, o Movimento dos Pequenos Agricultores conta com feiras pela cidade do Rio, o espaço de comercialização e hospedagem Raízes do Brasil, localizado no bairro de Santa Teresa e a cesta camponesa, uma espécie de feira online de alimentos orgânicos e agroecológicos que atende a nove pontos: oito na cidade do Rio e um no município de Niterói.
Outras experiências
Na cidade de Maricá, na Região Metropolitana do estado do Rio, a experiência com a agroecologia tem mostrado outros caminhos possíveis além da comercialização. Joana Duboc é agrônoma no projeto de implantação de uma unidade demonstrativa de agroecologia que a prefeitura do município tem em parceria com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
A iniciativa produz alimentos agroecológicos para seis escolas e hospitais públicos do município, atua também junto com aldeias indígenas e centros de reabilitação de dependentes químicos. Além disso, o projeto incide diretamente no processo de formação dos estudantes que plantam parte dos alimentos consumidos da escola.
“A gente também faz a capacitação com as crianças para que elas desmistifiquem o processo de produzir alimento. Várias escolas já fazem a colheita e o replantio das hortas que começamos. E você vê a diferença da relação da criança com o alimento quando ela para e pensa o que é a semente, a muda, você começa a desmistificar o sistema agroalimentar”, destaca.
O projeto conta também com a capacitação de 30 a 60 pessoas que querem trabalhar com agricultura agroecológica. A unidade demonstrativa, custeada pelo convênio da prefeitura com o MST, tem produzido uma média de 100 a 200 caixas de alimentos por semana que são doadas exclusivamente para abastecer as áreas de saúde e educação do município.
Para saber mais:
Programa Cesta Camponesa:
Raízes do Brasil
Endereço: Rua Áurea, 80, Santa Teresa, Rio de Janeiro
Facebook: Raízes do Brasil RJ
Edição: Eduardo Miranda