Envolto a mística da memória dos 30 anos de história da Comissão Pastoral da Terra (CPT) na região chamada pela pastoral de nordeste 2, que compreende os estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, encontro reuniu cerca de 200 pessoas entre agentes pastorais, camponeses, camponesas e apoiadores em João Pessoa (PB) entre os dias 11 e 13 de agosto. O momento foi de celebração, de resgate dos que dessa história participaram, de agradecimentos, reconhecimentos e, também de pensar os desafios do presente.
O bispo da Arquidiocese de João Pessoa, Dom Delson saudou os participantes: “Essa bandeira começou há trinta anos e continua de pé, vigorosa e produzindo seus frutos. E rememora a importância de D. José Maria Pires, grande colaborador no momento da fundação da CPT. D. José Maria Pires estava aqui presente naquela época e acompanhou tanto as lutas da CPT”. Padre Hermínio, um dos fundadores da CPT Nordeste 2, lembra das maiores dores desses 30 anos: “Quantas crianças tivemos que enterrar em acampamentos, quantos processos sofremos, quantas visitas fizemos à cadeias, quantos morreram? Muitos. Quando a gente faz um exercício de memória aumenta a indignação”.
O Encontro
O evento contou com uma programação de dois dias de plenárias que remontaram a história da CPT e tiraram os principais desafios para os próximos anos. O encontro aconteceu no Seminário Arquidiocesano da Paraíba, no mesmo lugar que há trinta anos os quatro estados decidiram se filiar a CPT Nacional, fundando a sua articulação regional.
Tânia Maria coordenadora da CPT João Pessoa fala dos principais desafios elencados durante o encontro. “O primeiro desafio é dar continuidade a luta pela terra, em defesa da democratização do acesso a ela. Para isso precisamos: manter o trabalho de base; dá atenção especial a juventude com um foco para a formação, e uma formação a partir da teologia da libertação que não seja apenas acadêmica, mas uma formação que prepare para a revolução; na mudança de não usar a linguagem técnica do Estado, não chamar de assentamento, mas de comunidade, como também em termos da espiritualidade, da gente se voltar mais a beber na fonte da teologia da libertação”.
Observando a atual conjuntura política do Brasil, Padre Hermínio, membro da coordenação da CPT Regional, enfatiza a importância da Pastoral seguir com seu trabalho junto aos camponeses e camponesas. “Não podemos deixar de lado essa prioridade da luta pela terra, pela reforma agrária, a modificação de toda a estrutura da propriedade da terra no Brasil, na sua estrutura perversa concentradora. Por quê? Sobretudo porque ultimamente tenho a impressão que está aumentando o desemprego, a fome de novo, estamos voltando aos anos 80, então vai acontecer de novo uma grande luta pelo trabalho, pela casa, até pela comida, pelos alimentos. Que bonito que a CPT cultiva, apoia e fortalece a luta pela terra e pela reforma agrária”.
O papel da CPT na formação dos movimentos sociais
“A importância da CPT, tanto no nordeste, como no Brasil inteiro, é ela estar presente na formação dos principais movimentos sociais, também presente em sindicatos combativos e na formação de partidos políticos da esquerda brasileira”, explicou o professor e pesquisador de Geografia da Universidade Federal da Paraíba, Marco Mitidiero. “No papel da formação dos movimentos sociais, é muito frequente a gente encontrar nas pesquisas depoimento de militantes e lideranças de movimentos sociais que atribuem à Pastoral da Terra e a participação de cléricos, de religiosas, de freiras, no momento de sua formação e de suas primeiras lutas. Portanto, a Pastoral da Terra aparece aí como a semente, o amalgama do povo que forma os movimentos sociais no Brasil”, enfatizou ele.
Missa e caminhada
No último dia do evento, uma Missa em homenagem aos 30 anos da CPT foi celebrada na Catedral de João Pessoa, seguida de caminhada pelo centro da cidade. A igreja ficou lotada, caravanas de camponeses e camponesas vieram de todos os quatro estados. Os organizadores estimam que estiveram presentes mais de mil e duzentas pessoas.
Bispo da Paraíba
Dom Delson, Bispo da Paraíba, falou aos participantes sobre o compromisso da Igreja com as pessoas do campo. “Nós acabamos de nos reunir no Nordeste todos os bispos das regionais do nordeste, e escrevemos um documento que está para sair. Ele aponta para a necessidade dos bispos apoiarem o empenho da agricultura familiar, os pequenos agricultores, porque quem sustenta nosso país são os pequenos agricultores e o país não pode fechar os olhos para essa realidade. O agronegócio é para exportação, para os ricos ganharem dinheiro”, divulgou ele.
A CPT na vida dos camponeses
Durante a caminhada, homens, mulheres e crianças, em sua grande maioria assentados e assentadas da reforma agrária, entoavam cantos de esperança e luta. Divulgavam um Deus e um Cristo que vive entre os pobres, que lhes dão forças para seguir seu plano de justiça e amor. Semblantes de oração e agradecimento em rostos de quem do trabalho na terra vive por fruto da existência da CPT.
Seu João Luís da Silva, morador do assentamento Novo Horizonte no município de Juarez Távora na Paraíba diz que a CPT é para todos eles um símbolo de resistência, de continuidade e de resgate da esperança de uma vida melhor. “Baseado no evangelho e na palavra de Deus a CPT prega profecia de Jesus Cristo resgatando a dignidade do homem do campo, da mulher e daqueles que crê numa vida melhor”, disse seu João com sorriso no rosto.
Aelma Texeira é assentada da reforma agrária no município paraibano de São Miguel. Pergunto para ela o que representava a CPT. Ela me abraçando, fala ao meu ouvido, “A CPT representa tudo para mim, se não fosse a CPT que ajudasse a gente, a gente não tinha conseguido a terra, a CPT é tudo que a gente tem”.
Edição: Homero Baco