MILITANTES EM MARCHA

“A Reforma Agrária contribui para um Brasil justo e solidário”, diz Felipe Russo

Desenvolvendo as sementes criolas e implantando o projeto da agroecologia há 10 anos, agricultor do semiárido mineiro fa

Brasil de Fato |
Felipe Russo, 34 anos, agricultor do assentamento Estrela do Norte, do MST, em Caldas Novas (MG).
Felipe Russo, 34 anos, agricultor do assentamento Estrela do Norte, do MST, em Caldas Novas (MG). - Juca Guimarães

‘Desfraldemos a nossa rebeldia e plantemos nessa terra como irmãos’. Este trecho do hino do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra resume bem as frentes de luta que o agricultor Felipe Russo, de 34 anos, tem encarado nos últimos 10 anos, desde que entrou no MST, em 2008, na região de Montes Claros para produzir sementes criolas e desenvolver a agroecologia. 

Atualmente, a região no norte de Minas, no semiárido, tem três núcleos de produção de sementes agroecológicas.

“Nós queremos um país mais justo. A reforma agrária contribui para o desenvolvimento justo e solidário da nação”, afirma, durante a Marcha Lula Livre, que conta com fileiras de trabalhadores rurais de todo o país que rumam em direção à Brasília para garantir a candidatura de Lula à presidência. O registro da chapa será no dia 15, na sede do STE (Superior Tribunal Eleitoral).

Russo defende a implantação de um projeto popular de governo para o país. Confira a entrevista para o Brasil de Fato.

Brasil de Fato: Como é o trabalho desenvolvido pelo MST?

Felipe Russo: Estamos produzindo alimentos saudáveis para essa e para as gerações futuras. A agroecologia na nossa região é fundamental para a preservação da água no semiárido do Norte de Minas. O estudo da convivência do agricultor com o semiárido é fundamental para desenvolver e remanejar o solo e nossas sementes criolas e também os recursos naturais. A agroecologia contribui não só com a produção de sementes, mas para o desenvolvimento dos trabalhadores e de um diálogo constante, permanente e muito próximo com os consumidores através das feiras da Reforma Agrária. 

Como são essas feiras?

Lá a gente elimina o atravessador e consegue levar comida saudável para o trabalhador num preço mais em conta.

Muitas empresas multinacionais estão produzindo sementes transgênicas com o objetivo de controlar a produção de alimentos. Qual o risco disso?

É grande o risco da soberania com o controle da semente. Durante milhões de anos, as sementes estiveram livres de controle. O homem, para desenvolver a agricultora, as domesticou. Isso é um patrimônio da humanidade, não pode ser de uma empresa ou do Capital. 

E o risco para a saúde?

Ninguém sabe o que esses transgênicos podem provocar. Assim foi na época da chamada Revolução Verde, pregando que os agrotóxicos seriam a solução para a fome no mundo. Hoje a gente vê que essa solução foi um fracasso. Existem vários estudos e pesquisas que comprovam que os transgênicos não resolvem o problema da produção e muito menos o da produtividade. Ele reduz o consumo de alguns herbicida, mas, em contrapartida, aumenta muito o consumo de inseticidas. Então temos que desmascarar esse projeto que é da bancada dos ruralistas apoiados pelo governo golpista do Michel Temer. 

E quanto a questão da água? Qual o risco com esses projetos de privatização? 

Privatizar a água é um equívoco enorme. O Brasil tem uma reserva enorme de água potável. Um dos maiores do mundo. A Nestlé e a Coca-Cola querem o controle da terra e da água. Lutamos contra isso em Minas. O presidente da Nestlé disse que a água não é um bem comum, que não é um direito de todos, mas sim uma mercadoria. Nós do MST não temos essa concepção. E tem gente série que pensa como a gente. É o caso do papa Francisco. Ele tem trazido essa reflexão para toda a humanidade sobre o bem viver. Sobre a necessidade do acesso à terra, à comida e à água. A água é de todos.

Edição: Pedro Ribeiro Nogueira