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O Globo defende a lei da anistia e esquece os crimes cometidos pela ditadura de 64

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O Globo faz cair por terra a autocrítica feita pelo apoio à ditadura de 64, pois quem defende a da lei da anistia, defende a impunidade
O Globo faz cair por terra a autocrítica feita pelo apoio à ditadura de 64, pois quem defende a da lei da anistia, defende a impunidade - Levante Popular da Juventude
O incrível é que decorrido tanto tempo os crimes seguem impunes

Apoiador incondicional do golpe empresarial militar de abril de 1964, o jornal O Globo em sua edição de quinta-feira (2) declara em editorial ser contrário a rever a lei de anistia. O editorial em um só instante se refere aos crimes contra a humanidade, cometidos em larga escala por militares e civis ao longo dos 21 anos do regime autoritário.

É importante que fique bem claro que a ditadura não cometeu poucas arbitrariedades e que o assassinato do jornalista Wladimir Herzog foi um dos crimes que agora o Comitê Interamericano de Direitos Humanos está a exigir do Estado brasileiro que seja investigado e os responsáveis sejam devidamente punidos, se estiverem vivos, se não, que as identidades sejam conhecidas pelo povo brasileiro. O incrível é que decorrido tanto tempo os crimes seguem impunes, mas isso O Globo não menciona.

Em um momento em que parte da opinião pública deixa-se envolver por apoiadores daqueles tempos sombrios, é fundamental que a lei da anistia seja revista e os crimes contra humanidade, não  apenas o cometido contra Herzog, sejam punidos. 

O Globo na prática faz cair por terra uma autocrítica feita por ter apoiado a ditadura de 64, pois quem defende a continuidade da lei da anistia, consequentemente a impunidade, está exatamente livrando a cara dos responsáveis pelas atrocidades que o jornal da família Marinho sempre apoiou.

Na verdade, o  tema revisão da lei da anistia é um divisor de águas, ou seja, torna claro quem defende a impunidade e quem ainda quer que os responsáveis pelas atrocidades sejam punidos e conhecidos. O que se deve lamentar é que isso ocorre muito tempo depois dos fatos acontecerem, resultando que muitos criminosos morreram impunes.

Não se deve alegar que os ainda vivos, por terem idade avançada, não devem ser investigados e punidos. Na história recente da humanidade, por exemplo, criminosos nazistas que se esconderam, quando localizados foram submetidos a julgamento e cumpriram, ou ainda cumprem, pena, apesar da idade avançada.

Em vez de condenar uma eventual revisão da lei da anistia, usando inclusive argumentos pífios, O Globo faria melhor se lembrasse de fatos que envolveram figuras como, por exemplo, Klaus Altmann, descoberto na Bolívia e extraditado para ser julgado e condenado pelos crimes cometidos durante a II Guerra Mundial.

O Globo poderia informar em suas páginas que em países da América do Sul, como, por exemplo,  na Argentina, Chile, Uruguai, criminosos do tempo das ditaduras foram julgados e condenados pelo que fizeram. Houve também os que tinham a mesma posição que O Globo, ou seja, eram contrários a qualquer tipo de punição, alegando que não se poderia rever o passado ou utilizando argumentos do gênero.

O que se lamenta em termos  de Brasil é que o tema aqui apresentado aconteça tanto tempo depois. Apesar disso, fica valendo o termo popular “antes  tarde do  que nunca”. É preciso que a opinião pública tome conhecimento de todos esses fatos, para que não se deixe enganar e embarque na onda da desinformação.

Edição: Jaqueline Deister