Crianças paulistanas foram convidadas a mexer na terra, tocar as sementes e viver os ciclos da natureza, conhecer um pouco mais sobre como são produzidos os alimentos no campo. Esta foi a primeira atividade deste sábado (4) para encerrar as comemorações pelos dois anos de Armazém do Campo na cidade de São Paulo.
“A proposta de fazer uma oficina de sementes e mudas vem de uma ideia de aprofundar o diálogo entre campo e cidade, entre os produtores e produtoras com as consumidoras e consumidores”, explica a educadora popular Jade Percassi. “Queremos chamar a atenção das crianças para os processos e ciclo necessários da natureza para a produção dos alimentos”, completa.
A agroecologia faz parte da proposta de Reforma Agrária Popular do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra que transcende a plantação de alimentos e pretende aproximar a natureza do ser humano. “Há um valor pedagógico e cultural muito grande para as crianças, além da conversa sobre alimentação saudável, bem como fortalecer os assentamentos de reforma agrária e trazer esse aspecto mais humano, de proximidade com a natureza", aponta Jade.
Aqueles que produzem os alimentos encontrados no Armazém do Campo também participaram da festa. “O espaço é muito importante para a gente, pois é uma maneira de divulgar os produtos dos assentamentos diretamente ao consumidor”, explica Flávio Barbosa, agricultor do Assentamento Dom Pedro Casaldáliga, que fica na região metropolitana de São Paulo. “A gente traz para as pessoas na cidade a importância do produto orgânico e agroecológico, o cuidado com a natureza e com a terra. E o Armazém fortalece e divulga o MST e o trabalho dos assentamentos".
O prato escolhido para o almoço festivo foi um arroz carreteiro. E os consumidores vieram de longe para experimentá-lo e apoiar a integração entre campo e cidade. “Ter o Armazém do Campo no meio da cidade conservadora de São Paulo é algo muito ousado”, afirma Marco Antônio Silva que, mesmo morando em Osasco (que fica há 22 km do espaço) o frequenta pelo menos duas vezes por semana. “Este armazém traz a realidade do campo e troca experiências com a capital."
A assistente social Tidda Vernucci também mora bem longe da capital, em São José do Rio Preto, há mais de 400 km de distância. No entanto, "toda vez que venho pra São Paulo eu visito o Armazém do Campo. É importante porque podemos consumir produtos da reforma agrária, sem veneno e esse é um espaço acolhedor. Venho para fazer compras. Gosto do arroz e do café ôrganicos".
Embora esse seja o último evento em comemoração aos dois anos, diversos produtos in natura e industrializados orgânicos estão em promoção até o próximo sábado (11).
Como surgiu?
Desde 2014, o MST promove anualmente, no Parque da Água Branca, em São Paulo, a Feira Nacional da Reforma Agrária. A partir de então, os paulistas passaram a procurar o MST e perguntar onde poderiam encontrar os produtos fora da época da feira. “Por conta disso, a gente se desafiou a abrir e inauguramos, então, em 2016, e agora já são dois anos de história”, conta Ademar Ludwig, um dos coordenadores do Armazém do Campo.
Atualmente a loja comercializa mais de 500 produtos vindos de assentamentos de reforma agrária, parceiros da agricultura familiar e produtores de alimentos orgânicos.
Desde o início, o Armazém oferece alimentos, mas também outros aspectos da cultura popular e de resistência, como a música, a literatura, o artesanato e materiais que fortalecem a luta.
O sábado festivo no Armazém do Campo terminou com a apresentação dos violeiros Fabius e Arnaldo de Freitas. Fabius confirma a importância do espaço para a valorização da cultura: “É um espaço agregador e veiculador de arte; as pessoas vêm mostrar o seu trabalho para os consumidores, que passam a ter contato com diferentes linguagens artísticas e várias ramificações da música brasileira”.
Edição: Daniela Stefano