A busca por deslocamentos mais baratos fez com que Carlos Leandro de Oliveira, morador do município de Queimados, na Baixada Fluminense, descobrisse a bicicleta como meio de transporte. Há seis anos e por necessidade financeira, o gestor ambiental mudou a sua rotina e passou a investir na bicicleta.
Ele conta que devido aos atrasos salariais do seu antigo trabalho no Instituto Estadual do Ambiente (INEA) no centro do Rio, passou a ir de bicicleta de Queimados até a capital fluminense, uma distância de mais de 50 quilômetros por trajeto.
“Ficamos três meses sem salário. Tive que pedir dinheiro emprestado e um dia eu resolvi ir de Queimados até o Rio de bicicleta e não parei mais. Na primeira viagem, eu ainda não estava acostumado com longas distâncias e levei quatro horas num percurso de 55 quilômetros. Eu deixava a bicicleta no trabalho e voltava de trem e vice-versa”, conta Oliveira.
Ao longo dos últimos anos a relação do gestor ambiental com a bicicleta se ampliou. Oliveira já fez duas cicloviagens. Uma para a cidade de São Paulo e outra para o estado de Minas Gerais para ver de perto o crime ambiental causado pela Samarco. A mudança social que a magrela gerou na vida do morador de Queimados, fez com que o cicloativista investisse em uma iniciativa que pode transformar a vida de muitos jovens do município.
Pedala Queimados
O coletivo Pedala Queimados, do qual Oliveira é idealizador, ganhou com o projeto “Pedalando para o Futuro” o edital do Fundo Socioambiental Casa. A iniciativa vai atender cerca de 124 pessoas diretamente ao longo de um ano, em sua maioria jovens, com oficinas de capacitação de reparos de bikes, educação no trânsito e também ensinando iniciantes a andar de bicicleta. Todas as atividades desenvolvidas pelo projeto têm como finalidade a criação de um sistema de compartilhamento de bicicletas para a população do Conjunto Habitacional Valdariosa, do programa Minha Casa Minha Vida.
O local possui aproximadamente 10 mil moradores. A maioria é oriunda de áreas de risco, população em situação de rua e aluguel de baixa renda. Segundo o levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE), o conjunto habitacional possui alto índice de violência, sendo a segurança uma das principais queixas dos moradores. O estudo aponta ainda que boa parte dos habitantes do Valdariosa pega duas conduções para chegar ao trabalho, o que aumenta a despesa das famílias.
A questão da violência não é um problema só do Valdariosa. O município de Queimados é considerado o mais violento do país segundo o Atlas da Violência 2018, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Oliveira explica que a falta de segurança pública foi um dos principais fatores para escolher o local de realização do projeto.
“Nós entendemos que o conjunto habitacional possui um problema e precisa de uma intervenção. Propusemos a criação de um sistema de bicicleta compartilhada a partir da captação de bicicletas abandonas em prédios e condomínios. E reformamos as bicicletas com a capacitação de jovens e adolescentes. São esses adolescentes que por inúmeros motivos acabam optando pelo crime organizado pelo uso de entorpecentes. A gente acredita que é possível um outro caminho também”, ressalta.
O início das atividades do projeto ocorrerá em setembro. O “Pedalando para o Futuro” está na etapa de recolher bicicletas abandonadas para serem utilizadas na iniciativa. Os interessados em contribuir podem entrar em contato com o Carlos Oliveira pelo telefone (21) 969083989. A retirada da bicicleta é realizada pelo projeto.
Edição: Mariana Pitasse