Em meio às constantes dificuldades enfrentadas pelos lutadores da Ocupação Mulheres Guerreiras, que há quinze dias foram brutalmente expulsos de uma ocupação no Bairro das Indústrias, em João Pessoa, em uma operação que envolveu mais de 300 policias, tendo como resultado, crianças, mulheres e idosos agredidos, móveis destruídos por tratores, sonho de um teto e de uma vida coletiva transformado em pesadelo e dúvida. Nesta sexta, houve um momento de solidariedade de um movimento que antes de se tornar o mais importante do país, também passou, e ainda passa, por diversos percalços. O MST, como parte das celebrações do dia do trabalhador rural, celebrado em 25 de julho, entregou alimentos aos moradores de diversas ocupações urbanas, incluindo a Ocupação Mulheres Guerreiras. Foi uma tonelada de alimentos produzidos nos assentamentos: macaxeira, alface, abóbora, abacaxi, feijão. Tudo produzido sem o uso de agrotóxicos.
Depois do despejo do Mulheres Guerreiras, os desabrigados ocuparam uma quadra, no mesmo bairro, e mais de 90 famílias estão nesse momento vivendo a base de doações, cozinhando à lenha e dividindo um banheiro. As crianças continuam brincando e sorrindo, as mulheres continuam fortes e confiantes na vitória e o poder público continua tratando essas pessoas com total desrespeito.
“O MST está enquanto movimento que luta por terra, se solidarizando com as famílias ao mesmo tempo que fazemos uma denúncia ao PL do veneno, o projeto de lei que acaba de passar no Congresso Nacional, junto com todos essas outras reformas que vem sendo feitas contra o povo brasileiro durante esse período de golpe e desmonte de todas as políticas sociais, as políticas públicas e agora um projeto de lei que pretende liberar o uso de venenos no Brasil, que já é o maior consumidor de agrotóxicos do planeta. Nós consumimos em média sete litros e meio de agrotóxicos por pessoa por ano, então somos envenenados dia a dia nesse sistema de produção que temos. O agronegócio mata, a cultura camponesa no Brasil é que produz os alimentos que chegam até a mesa da sociedade todos os dias, a comida da cesta básica do povo brasileiro”, explicou Janailson Almeida, dirigente do MST na Paraíba, assentado no município de Remígio, no assentamento Queimadas.
O momento de conversa antes e durante a entrega de alimentos foi de aprendizado e também de solidariedade. Como conta Gleyson Ricardo, militante do Movimento de Trabalhadores por Direito (MTD): “É decisivo para o momento que estamos vivendo. O estado de coisas, o golpe, o ataque aos trabalhadores, ele não vem só para cidade, vem pra cidade e pro campo. Durante essa semana toda, o Movimento Sem Terra fez ações em todo o país e aqui na Paraíba ocupou o Incra. O mesmo governo que está destruindo a política para a reforma agrária e tem o Incra como esse espaço simbólico que deveria ter a política pública, é a outra face da mesma moeda que é o movimento dos sem teto. O Minha Casa Minha Vida também foi destruído. O que estamos vendo nesse momento são explosões de ocupações em todo lugar”. Ao tratar da unidade entre campo e cidade, Gleyson é enfático: “É importante porque a solidariedade para enfrentar o golpe precisa ser muito grande. Só a unidade do campo com a cidade pode trazer as vitórias contra esse governo que está aí atacando os trabalhadores”.
O mesmo sentimento é retomado por Janaílson. “Estamos nesse esforço da aliança campo e cidade, luta pela reforma agrária popular, que é um projeto de diálogo com a sociedade, de produção de alimentos para toda a sociedade. Nessa semana estamos em uma grande jornada de lutas nacional do MST, ocupamos na Paraíba, o Incra, em reivindicação as nossas pautas que estão engavetadas, no país inteiro estamos em jornada de lutas, reunimos produtos da reforma agrária de vários acampamentos da Paraíba para distribuir para as famílias que foram expulsas violentamente de uma ocupação aqui no bairro das industrias, estão em um ginásio em situação extremamente precária, precisando de auxilio”.
O sentimento de solidariedade também foi perceptível naqueles que recebiam as palavras de apoio e os alimentos, como a troca de experiência de quem há décadas luta por uma sociedade mais justa. Foi o caso de Denise Carla de Souza Pereira, da Ocupação Mulheres Guerreiras. “Acho bom, eles têm mais tempo que a gente de ocupação. Então pra eles nos ensinar seria básico e o melhor pra gente agir, saber se preparar”. Ao falar da situação que estão enfrentando, Denise relatou que o sofrimento das crianças é o que mais incomoda. “Muito frio, principalmente para as crianças. Se pegar três ou quatro dias de chuva seguido alaga tudo”. Segundo as famílias que ainda ocupam a quadra do Bairro a espera de uma posição da Prefeitura e da Caixa Econômica Federal, a informação é de que a Defensoria Pública da União (DPU) já entrou com uma ação e agora esperam uma resposta do órgão municipal para que a situação seja resolvida. A ação pede indenização aos moradores que foram agredidos e perderam seus bens além de pedir urgência na garantia de uma moradia para as famílias.
Edição: Heloisa de Sousa