Infância

Encontro Nacional de Sem Terrinhas uniu diversão, aprendizado e mobilização

Cerca de 1.200 crianças se reuniram durante quatro dias em Brasília em evento inédito

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Encontro teve diário para crianças registrarem suas impressões sobre as atividades e debates
Encontro teve diário para crianças registrarem suas impressões sobre as atividades e debates - MST

Vindas dos 24 estados onde atua o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), 1.200 crianças se reuniram durante quatro dias em Brasília (DF) para participarem do primeiro Encontro Nacional das Crianças Sem Terrinha. Entre 23 e 26 de julho, a garotada participou de atividades culturais, pedagógicas e políticas. 

O MST já realizava reuniões deste tipo em nível estadual desde 1994. O Encontro Nacional foi fruto de dois anos de atividades preparatórias. Nesta primeira edição, sob o lema “Sem Terrinha em Movimento: Brincar, Sorrir, Lutar por Reforma Agrária Popular!”, os principais temas de debate foram os direitos da criança e a questão da alimentação saudável. 

Educação no campo

A primeira plenária do encontro, realizada na terça-feira (24), se dedicou ao tema dos Direitos da Criança. A principal questão tratada pelas crianças foi a educação no campo. A sem-terrinha Kaylane Dourado, de Goiás, ressaltou a importância de que o poder público garanta escolas dentro dos assentamentos e acampamentos. 
 
“Quando  a gente vai para a escola, passamos mais tempo dentro do ônibus do que na própria escola. Um dia eu estava indo para escola e a van quebrou. Eu estava de calça branca e lá estava cheio de lama. Minha calça ficou vermelha”, contou. “A gente sai da roça para estudar na cidade, sendo que a gente tem direito de ter escola na roça”, comentou Kaylane. 

Durante os dois anos de preparação do Encontro Nacional, os sem-terrinha debateram a formulação de um manifesto, aprovado durante a reunião em Brasília. Na quarta-feira (25), durante uma visita cultural à Esplanada dos Ministérios, as crianças entregaram o documento, que denuncia o fechamento de escolas no campo, ao Ministério da Educação.

“Lutamos por nossos direitos, que não são cumpridos: nossas estradas são ruins e esburacadas; o transporte escolar quase sempre quebra e entra muita poeira; muitas escolas estão sendo fechadas e outras são longe de nossas casas; falta material e temos poucos livros pra ler. As escolas do campo precisam ter melhores condições. A alimentação das escolas precisa melhorar, ter mais produção da reforma agrária e da agricultura camponesa familiar”, diz um trecho do texto. 

Oficinas

Pelas tardes, os sem terrinha se dividiam em diversas oficinas culturais e lúdicas. Através delas, parte das crianças, por exemplo, foi integrada à equipe de comunicação do Encontro, tirando fotos, escrevendo textos e gravando vídeos. Ao final do encontro, um Jornal Sem Terrinha foi impresso para que os presentes levassem aos estados de origem o resultado de seu próprio trabalho durante o evento. 

 

Josué Rodrigues Costa, de 11 anos, participou de outra das oficinas, a de Construção de Histórias. Nela, o garoto, que deseja se tornar escritor, relatou sua vida no assentamento Dom Tomás Balduíno, localizado na cidade de Formosa, em Goiás. 

“Eu gosto de plantar e colher alimentos orgânicos, sem agrotóxicos, sem qualquer adubo, porque além de prejudicar nossa vida, prejudica a vida dos animais silvestres, como, por exemplo, matam muitos peixes. A regra que tem que ser cumprida é que não poderia usar nenhum tipo de química nas plantas”, escreveu ele em um trecho. 

Cred. imagem: MST

Alimentação

A questão trazida pelo relato de Josué foi o tema da segunda plenária que reuniu o conjunto dos sem terrinha. As crianças debateram como o modelo agrícola predominante no Brasil, que transforma alimentos em mercadoria, é responsável por danos à saúde humana e às culturas alimentares regionais. 

Os sem terrinha ressaltaram o aprendizado familiar sobre a necessidade de preservação das sementes crioulas. De outro lado, defenderam incentivos públicos à produção dos assentamentos e acampamentos.  A sem terrinha vinda do Ceará Dandara dos Santos Feitosa, de dez anos, foi uma das crianças a defender esse ponto de vista. 

“Minha escola é dentro do assentamento. Lá, a merenda escolar é produzida por assentados e assentadas. Os sem terrinha se alimentam do fruto da reforma agrária. Com as pessoas e a natureza convivendo em harmonia, teremos comida saudável em nossa mesa todo dia”, disse. 

O Primeiro Encontro Nacional das Crianças Sem Terrinha foi coordenado pelas próprias crianças durante os quatro dias de atividades. Cerca de 400 educadores auxiliaram-nas nesta tarefa. 


 

Edição: Juca Guimarães