A Comissão Popular da Verdade divulgou na manhã desta quarta-feira (25) o relatório dos primeiros cinco meses de intervenção militar no Rio de Janeiro. Em uma coletiva de imprensa realizada no Salão Nobre da Faculdade Nacional de Direto da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foram divulgados dados alarmantes sobre as operações realizadas nas periferias do estado do Rio desde que foi anunciada a intervenção, no dia 16 de fevereiro deste ano. No evento, estiveram presentes representantes de movimentos populares, moradores das favelas e periferias da capital e mães de vítimas da violência do estado.
O relatório aponta o aumento das taxas de letalidade, tiroteios e chacinas em todo o estado. O número de tiroteios, por exemplo, cresceu 60% nos meses de intervenção, em relação ao mesmo período do ano passado, somando 4005 registros em 2018, frente aos 2503 registros em 2017. Outro dado alarmante é o aumento do número de homicídios decorrentes de intervenção policial. Em comparação com o mesmo período do ano passado, o crescimento foi de 28%.
A coletiva de imprensa que lançou o relatório seria seguida de uma audiência com o interventor, Braga Netto. No entanto, a programação teve que ser alterada porque o interventor comunicou não ser possível receber a Comissão. "Protocolamos um ofício com o pedido na semana passada. Na segunda feira (23) a assessoria do interventor me ligou, dizendo que não era possível fazer a audiência com ele hoje pela manhã, que foi o horário que nós sugerimos, porque eles tinham uma formatura lá", explicou Virgínia Berriel, jornalista e integrante da Comissão Popular da Verdade.
O grupo sugeriu então que a audiência fosse adiantada para terça-feira (24) já que o teor do relatório ditou a urgência da reunião. "Mas eles disseram que estava muito perto, que não dava. Ou seja, eles estão se esquivando", acrescentou
A comissão ainda espera uma resposta do gabinete da intervenção sobre uma nova data para a audiência. "Nós esperamos que o senhor interventor, Walter Braga Netto, tenha o bom senso, que nos respeite e nos receba. Nós só queremos dialogar com ele e perguntar para ele se é normal tudo que está acontecendo nas operações. Se é normal um helicóptero atirar de cima para baixo, se é normal chutarem a porta das pessoas às 3h da manhã e espancar morador. Se é normal executarem alguém na frente de um caveirão como aconteceu na Maré. Não tem pena de morte no Brasil, mas isso aconteceu", denunciou Berriel.
Edição: Mariana Pitasse