A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que interrompeu a venda de ativos a Petrobras, foi vista pelo mercado financeiro como um entrave para a recuperação econômica da estatal brasileira. Mas economistas ouvidos pelo Brasil de Fato ponderam que a privatização de setores da companhia não é a responsável pelos recentes resultados positivos da empresa.
No primeiro trimestre deste ano, o lucro líquido da Petrobras, de R$ 6,961 bilhões, cresceu 56,43% em relação ao mesmo período do ano passado, melhor montante registrado pela empresa em um primeiro trimestre desde 2013.
Para o economista aposentado da Petrobras, Cláudio Oliveira, o que a imprensa e analistas convencionaram a chamar de recuperação econômica da Petrobras não está relacionada com a venda de ativos ou com a nova política de preços da estatal.
"A disponibilidade de recursos da Petrobras é enorme. A capacidade de geração, de recursos de caixa da Petrobras, é maior do que qualquer grande petroleira do mundo. É uma excepcional geradora de caixa. A empresa não tem nenhum problema financeiro", diz o economista.
Pedro Parente, que entrou na presidência da estatal em 2016 com o governo Michel Temer (MDB) e pediu demissão após a greve dos caminhoneiros, assumiu a empresa com R$ 21 bilhões em caixa — número alto quando comparado ao caixa de outras petrolíferas internacionais. No mesmo ano, a multinacional Exxon possuía US$ 3,2 bilhões em caixa e a estadunidense Chevron, US$ 4,81 bilhões.
O economista chama a atenção para o fato de que a liquidez corrente da companhia, indicador financeiro que avalia a possibilidade de uma empresa quitar suas obrigações com terceiros, registrar números acima de 1,50 nos últimos seis anos. Isso significa que, a cada R$ 1 que a Petrobras tinha para pagar para terceiros a curto prazo, ela possuía, em média, de R$ 1,50 disponível.
Ele afirma que o saldo positivo do trimestre é fruto dos US$ 250 bilhões investidos entre 2009 a 2014 — e que começam a aparecer nas resultados da companhia neste ano.
O economista Rodrigo Leão, diretor técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustível (INEEP), afirma que houve um "superdimensionamento" de dificuldades da empresa, como a queda do preço do petróleo.
"Se a gente pegar os resultados operacionais da Petrobras, descontando a questão contábil e financeira, ela não teve prejuízo em nenhum ano. Ela teve prejuízo no refino, durante uma época, mas, no agregado, quando você soma todas as áreas, ela não chegou a ter prejuízo", pontuou.
Fake news
Cláudio Oliveira classifica como "fake news" as análises que afirmaram Petrobras tinha uma "dívida impagável" e dependeria de acordo judicial para manter sua lucratividade.
"Para mim, o que eles fizeram foi lançar uma notícia falsa e mentirosa a respeito da empresa e o assunto virou verdade para a população. Eles justificam as vendas de ativos dizendo que há necessidade financeira", apontou o economista.
Ele também lembra que a Petrobras adiantou recursos para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e, ainda assim, terminou o ano de 2017 com mais de US$ 22,52 bilhões em caixa.
Ele diferencia o setor operacional da empresa com a perda valor de mercado da empresa: "Se você olhar a evolução da receita da Petrobras, a liquidez corrente ou a geração de caixa, você vai ver que não tem relação nenhuma com o valor das ações na bolsa. A Bolsa é um mercado separado de apostas", pontua.
A meta da Petrobras é atingir US$ 21 bilhões em ativos entre 2017 e 2018. A companhia somou, até agora, cerca de US$ 4,8 bilhões com as transações que foram interrompidas por decisão do ministro Ricardo Lewandowski que privatizações precisam ser aprovadas pelo Legislativo.
Edição: Juca Guimarães