ATAQUE

Mobilizações denunciam demissão massiva na agência de notícias argentina Télam

Governo de Macri demitiu mais de 350 funcionários, cerca de 40% do número total de trabalhadores da empresa pública

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Manifestação realizada na tarde desta quinta-feira (5) em Buenos Aires
Manifestação realizada na tarde desta quinta-feira (5) em Buenos Aires - Emergentes

Em meio a um cenário de políticas de ajuste e repressão aos movimentos populares e sindicatos, o governo do presidente argentino, Mauricio Macri, realiza um novo ataque, agora contra os trabalhadores e as trabalhadoras da agência pública de notícias do país, a Télam. Nesta quinta-feira (5), os funcionários da agência protestaram em Buenos Aires, capital do país, exigindo a reincorporação de 357 funcionários demitidos e defendendo os meios de comunicação públicos.

No último 26 de junho, o governo anunciou a demissão de 357 funcionários da agência de notícias, o que representa um corte de mais de 40% no número de funcionários. A decisão foi anunciada por Hernán Lombardi, empresário e político argentino, atual titular do Sistema Federal de Meios de Comunicação e Conteúdos Públicos (cargo equivalente ao de ministro), que está na direção da pasta desde 2015, após a eleição de Macri.

Durante a marcha desta quinta, que reuniu cerca de 3 mil pessoas e percorreu uma das principais vias da cidade, a Avenida Corrientes, e terminou em frente ao Centro Cultural Kirchner, onde está o escritório de Hernán Lombardi, os manifestantes denunciaram o desmantelamento da agência como um atentado à informação pública, pois com as demissões, seis escritórios em diferentes pontos do país e outras 14 ficaram com operação mínima, o que poderia levar à privatização da informação.

Na avaliação dos trabalhadores da agência, sindicatos e organizações vinculadas ao tema da comunicação, as demissões estão relacionadas com outros ataques, entre eles, demissões anteriores na Rádio Nacional e os cortes de salário e na programação da TV Pública.

“Acreditamos que, evidentemente, eles têm desprezo pelos meios de comunicação públicos, não sabem o que é um meio de comunicação público, não sabem o que oferecemos à sociedade ou deveríamos oferecer. Por isso tomam essas decisões, que favorecem a concentração meios de comunicação. Porque um meio público que tenha menos vozes, será um meio de comunicação menos plural, menos nacional e vai favorecer uma voz única, hegemônica, que é a dos meios privados”, defende Carla Gaudensi, delegada da comissão de trabalhadores e trabalhadoras da Télam, em entrevista para a Rádio Gráfica.

Na nota divulgada pelo diretório da agência, os responsáveis pelas demissões justificam a decisão como uma ação necessária para criar uma “nova agência Télam” e responsabiliza o governo anterior pelo crescimento no quadro de funcionários.

“Como tantos órgãos e empresas do Estado, a agência que herdamos também foi vítima da irresponsabilidade e da má-administração do governo anterior que utilizou o que é público para fins político-partidários (...) No caminho de modernizar e profissionalizar a empresa e depois de uma minuciosa avaliação em cada área, decidimos desvincular funcionários que não respondem ao perfil que buscamos para uma agência pública de notícias”, anuncia o comunicado oficial.

Os funcionários demitidos foram informados da demissão a partir de um telegrama enviado pela empresa. Por e-mail, os funcionários que não perderam seus empregos foram parabenizados por fazerem parte da “nova agência Télam”, como explicou Carla Gaudensi.

“Nossos companheiros estão recebendo os telegramas desde a terça-feira (26), foi assim que ficamos sabendo das demissões. Uma semana antes, já tínhamos denunciado o plano do ministro Lombardi para a agência estatal, e agora nos deparamos com essa forma de demissão. Os companheiros vieram trabalhar e ficaram sabendo porque suas famílias começaram a receber os telegramas. Convocamos uma greve e uma assembleia para o mesmo dia”, afirma a funcionária e líder sindical.

O Congresso argentino convocou Hernán Lombardi para dar explicações sobre as demissões na última terça-feira (3) na Comissão de Legislação de Trabalhos, no entanto, o ministro não compareceu. A sede da Télam, localizada na capital, Buenos Aires, está ocupada pelos funcionários desde o anúncio da medida.

Desde o anúncio das demissões, há quase dez dias, os trabalhadores da agência permanecem mobilizados contra tal decisão, que consideram como um ataque à comunicação pública do país e à liberdade de imprensa.

(Com informações do Notas Periodismo Popular)

Edição: Vivian Neves Fernandes | Tradução: Luiza Mançano